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Ajuda humanitária limpa

20 de abril de 2010

Ao prestar socorro em terras distantes, as organizações de ajuda humanitária contratam empresas aéreas para o transporte de suprimentos. O problema é que muitas delas também transportam clandestinamente armas e drogas.

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Na Somália, tráfico de armas é intenso e drogas têm valor de moeda nacionalFoto: AP

O dado é alarmante: cerca de 90% das empresas aéreas de carga que fazem transporte de armas ilegais e de drogas também trabalham para organizações de ajuda humanitária.

O dado foi revelado no ano passado pelo Sipri, Instituto Internacional de Pesquisa sobre Paz, sediado em Estocolmo. Desta maneira, essas organizações acabam financiando indiretamente o contrabando de armas e contribuem para a desestabilização de regiões devastadas por guerras.

Com o objetivo de chamar atenção para o problema e limitar os danos, o Sipri lançou o portal de informações Ethical Cargo. A novidade foi apresentada nesta terça-feira (20/04), na capital da Suécia.

Ajuda passo a passo

No escritório do instituto em Estocolmo, Hugh Griffiths, gerente do projeto, explica o funcionamento do site: “Quem trabalhar para a organização Médico Sem Fronteiras, em Bruxelas ou em Paris, pode conferir aqui nossas estratégias de negociação. Descrevemos todas as etapas, tanto pré e pós-assinatura do contrato com uma empresa de carga.”

O serviço online também oferece modelos de textos prontos, a serem copiados e inseridos no contrato. “Isso também inclui cláusulas que dão à organização o direito de rescindir o contrato, caso a transportadora tiver violado as normas éticas definidas."

Tais medidas permitem, por exemplo, que organizações como Médicos sem Fronteiras forcem empresas de transporte de carga a agir com ética – como a somaliana Bluebird Aviation. Em anos passados, a firma africana transportou com certa regularidade não só drogas, mas também material de ajuda humanitária.

Risco no ar

Segundo um relatório das Nações Unidas, a Bluebird Aviation chegou a fazer na Somália até 250 entregas mensais do khat, uma droga vegetal com efeito estimulante. Uma empresa como essa, que também transporta material de ajuda humanitária, está portanto diretamente envolvida no tráfico de entorpecentes.

“O khat é a principal moeda na Somália. É usado pelos promotores dos conflitos armados, porque estimula a agressão. Em plena guerra, com falta de alimentos e de água potável, as pessoas confiam no khat como uma espécie de moeda. E quem detém a droga exerce controle sobre a população. Isso é generalizado, chegando até ao pequeno vendedor de rua”, comenta Griffiths.

O khat é comercializado pelos instigadores da guerra e seu lucro financia os combates – ou seja, justamente aquilo que as organizações internacionais de ajuda humanitária querem amenizar.

Além disso, empresas de transporte de carga como a Bluebird Aviation também oferecem riscos de segurança. Em 2004, 2008 e 2009, caíram diversos aviões dessa companhia. “Os aviões são mal conservados, o risco de queda e de morte de pessoas é grande. Isso já aconteceu até com missões das Nações Unidas. Além disso, os aviões dessas empresas são alvo de ataques de facções inimigas”, explica Per Buman, responsável pelo Sida, órgão sueco de ajuda ao desenvolvimento.

Apesar de não haver muitas informações seguras a respeito disso, Buman considera evidente que uma empresa que atua na ilegalidade esteja exposta a um risco maior de hostilidade. “Não sabemos exatamente a dimensão desse risco.”

Ferramenta online

O Sida vai financiar o novo portal Ethical Cargo, que também recebe apoio do Ministério de Relações Exteriores da Suécia. Recomendações de medidas concretas são acompanhadas de informações de fundo. Além disso, também existirá um serviço telefônico de aconselhamento.

“Nunca recomendaríamos alguma empresa, assim como não desaconselharíamos nenhuma. Se uma organização, por exemplo, encontrar na nossa página informações sobre uma transportadora que já tenha perdido seis aviões, mas mesmo assim tenha que trabalhar com essa companhia, ela pode inserir no contrato uma cláusula que aborde o aspecto da segurança”, recomenda Hugh Griffiths, que acredita que o lançamento do novo serviço provocará mudanças no mercado.

Autora: Agnes Bührig (np)
Revisão: Simone Lopes