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G8 em Quebec

29 de março de 2010

O G20 aumenta gradualmente sua influência sobre a governança global. Considerando que cada vez mais países exigem poder de voz nas decisões políticas de alcance mundial, o G8 enfrenta perda de influência e relevância.

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Ativistas protestam contra o G8 durante a cúpula de 2009, realizada em Áquila, na ItáliaFoto: AP

Os ministros de Relações Exteriores do Grupo dos Oito (G8) se reúnem no Quebec, no Canadá, de 29 a 30 de março, a fim de planejar a cúpula a ser realizada na província canadense de Ontário em junho próximo.

Durante dois dias, os ministros de Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia e EUA discutirão – entre outras coisas – o desarmamentismo e a não-proliferação de armas nucleares, formas de assegurar a paz na fronteira entre Afeganistão e Paquistão, os efeitos do terrorismo e a segurança de nações com defesa vulnerável.

A cúpula de Ontário será especialmente importante, não apenas pela relevância dos assuntos tratados. Há quem afirme que esse deverá ser o último encontro do G8, considerando o crescente poder global do Grupo dos 20 (G20), que inclui as principais nações emergentes e industrializadas.

Desde 1975, o G8 atuou de diversas formas como um fórum econômico de liderança mundial. Entretanto, a cúpula do Grupo dos 20 realizada em setembro passado em Pittsburgh anunciou que seus líderes "endossaram o G20 como o principal fórum de cooperação econômica internacional".

Crise financeira revelou limitações do G8

O G8 tende a enfocar mais questões como segurança e mudança climática, relegando a política econômica e financeira para o G7, que inclui os mesmos países-membros do G8 menos a Rússia.

No entanto, sobretudo após o impacto da crise econômica global, alguns analistas políticos passaram a questionar até quando o G8 e o G7 vão sobreviver, diante da crescente influência de um fórum global mais inclusivo como o G20.

"Se é que sobreviverá, o G8 será um grêmio menos poderoso, e isso por bons motivos", declarou à Deutsche Welle o Dr. Henning Meyer, chefe do programa europeu do Instituto de Política Global, em Londres. "Ficou claro que uma estrutura política que exclua importantes países emergentes como a Índia, a China e o Brasil simplesmente não tem condições de lidar com essas questões globais."

"Assim como ocorre com outras instituições mundiais, como as Nações Unidas, por exemplo, ficou claro que a estrutura do G8 não reflete suficientemente as realidades globais", acrescentou. "Se problemas mundiais da dimensão da crise financeira persistirem, o que é bem provável, o poder real do G8 será definitivamente transferido para o G20 ou para qualquer outra estrutura política mais ampla."

Jenilee Guebert, diretora de um grupo de pesquisa sobre o G8 na Universidade de Toronto, acredita que, independentemente do papel que o G8 e o G7 desempenham na política econômica global, ambos os grêmios serão desbancados pela crescente influência do G20.

É provável que o G20 não restrinja sua crescente influência a questões meramente econômicas – e isso poderia implicar uma marginalização ainda maior do G8. Recentemente, por ocasião do terremoto no Haiti, o G20 mostrou que pode intervir no financiamento de projetos de desenvolvimento, por exemplo, tendo também começado a desempenhar um papel mais relevante em questões como energia e mudança climática, em particular o financiamento de projetos climáticos.

G8 deverá manter liderança em matéria de segurança

Apesar de a influência do G20 estar aumentando em áreas que tradicionalmente representavam um domínio do G8, o Grupo dos 8 deverá manter sua influência sobre a política climática e sobre os mecanismos de desenvolvimento, mesmo tendo que aceitar a intervenção do G20.

"Questões de desenvolvimento – incluindo saúde, segurança alimentar, abastecimento de água, estruturas sanitárias e ajuda ao desenvolvimento – continuarão fazendo parte da agenda do G8", opina Guebert

Também é provável que o G8 mantenha seu papel de liderança em questões que dizem mais respeito à sua agenda, como segurança política, combate ao terrorismo, não-proliferação de armas nucleares, promoção da democracia e boa governança. O fato de nem todos os membros do G20 serem democráticos ou terem meios de prestar ajuda a outros países dificulta a discussão dessas questões nesse grêmio mais inclusivo.

Para Henning Meyer, no entanto, nem o G8, nem o G20 estão preparados para resolver problemas de segurança.

"O aspecto mais importante das estruturas de governança multilateral é que todos os membros, ou pelo menos os mais relevantes, estão incluídos no mesmo processo", constata.

ONU detém mais poderes

"Acho que nem o G8 nem o G20 estão preparados para lidar com questões de segurança ou não-proliferação de armas. Esse é o papel das Nações Unidas. O G8 e o G20 não passam de grêmios com reuniões regulares em que os governos costumam fazer consultações. Os resultados dessas reuniões não são vinculativos, porque os acertos formais têm que ser implementados nos respectivos países. A ONU tem mais instrumentos à sua disposição", avalia Meyer.

De qualquer forma, parece ser seguro que o G8 continuará existindo enquanto mantiver seu envolvimento em áreas onde o G20 é incapaz de agir com eficiência, enquanto seus membros contarem com o apoio interno e externo, sobretudo por parte de países sob sua influência, como as nações africanas, que temem que a necessária ajuda ao desenvolvimento possa acabar sem o Grupo dos Oito.

Seja como for, nada poderá conter o processo de uma governança global sob o signo do G20, não só porque diversos de seus membros representam grandes mercados emergentes. Países desenvolvidos que não pertencem ao G8, como a Austrália, por exemplo, aumentam a pressão para serem inteiramente incluídos no processo de decisões de alcance global.

Pode ser que o G8 não esteja próximo de ser extinto, mas certamente está próximo de aceitar uma nova realidade em que ele está visivelmente perdendo poder e em que terá que ceder espaço de atuação a um fórum mais amplo.

Autor: Nick Amies (sl)
Revisão: Roselaine Wandscheer

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