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Arte confiscada

31 de março de 2010

Nicole Roth pesquisa a procedência de obras de arte do Museu Städel em Frankfurt. Para ela, a internet é uma grande aliada na busca dos antigos propríetários.

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Museu Städel, em Frankfurt, investiga histórico de obras expropriadasFoto: Tourismus+Congress GmbH Frankfurt a. Main

Em 1999, o ministro alemão da Cultura, Michael Naumann, enviou uma carta aos diretores de museus na Alemanha requerendo que fosse investigada a origem de todas as obras adquiridas entre 1933 e 1945.

Pouco tempo depois, o governo federal alemão acertou com autoridades estaduais e municipais que as obras de arte confiscadas pelos nazistas deveriam ser devolvidas aos antigos proprietários. Desde então, muitos museus encarregaram especialistas de investigar a proveniência das obras de arte em questão.

Um desses museus é o Städel, em Frankfurt, com um acervo de mais de 2.700 pinturas, 600 esculturas e pelo menos 100 mil gravuras. Nicole Roth, pesquisadora que investiga casos de confisco para o museu, descreve o seu trabalho.

Deutsche Welle: Por que a restituição de obras de arte confiscadas leva tanto tempo?

Nicole Roth: Prefiro conferir caso a caso. As circunstâncias em torno de uma pintura específica são diferentes daquelas das obras de arte em geral. E os museus que dispõem de especialistas que analisam a procedência das obras estão mais preparados para investigar casos individuais com maior rapidez.

Você pode nos descrever um caso em que a obra de arte foi devolvida sem muita demora?

O processo pode ser rápido se houver inconsistências na documentação relativa à obra. Um sobrenome judeu é obviamente motivo para fazer uma análise mais aprofundada. Ou se eu notar um preço de venda que me pareça suspeito ou um proprietário de maior relevância, então decido fazer uma pesquisa mais detalhada.

Você pode nos dar um exemplo concreto da sua experiência de trabalho?

Eu poderia citar a coleção de Paul Stern, originariamente abrigada em Frankfurt. Fiquei curiosa ao reconhecer o nome na documentação. Então fiz uma pesquisa em todos os arquivos próximos – no nosso próprio arquivo, no arquivo municipal e no Arquivo Público Central de Wiesbaden. Assim descobri que eu poderia estar lidando com um patrimônio confiscado pela polícia nazista. É dessa forma que se acham as obras.

O próximo passo é rastrear os herdeiros dos proprietários. Podemos fazer isso divulgando as informações das obras no site LostArt.de – um banco de dados para obras de arte apreendidas pelos nazistas –, a fim de que as pessoas saibam que estamos procurando os herdeiros.

Até que ponto a internet é importante para o seu trabalho?

Muito, muito importante. Nem posso imaginar como eu teria feito uma pesquisa dessas 25 ou 30 anos atrás, quando não tínhamos à disposição essa vasta quantidade de informações via internet.

Também é importante citar a ajuda de outros pesquisadores. Posso mandar e-mails a colegas de outras instituições e perguntar se eles conhecem um ou outro marchand, ou se sabem algo sobre este ou aquele leilão. Levaria muito mais tempo se eu tivesse que ligar para cada um individualmente. A internet é de fato uma enorme vantagem.

Qual é a situação momentânea, as maiores dificuldades?

Os prazos [para devolver as obras] já expiraram. Essencialmente, o nosso objetivo é respeitar os Princípios de Washington, que determinam como lidar com obras de arte.

E que princípios são esses?

Os museus têm obrigação moral de devolver obras de artes confiscadas durante o período nazista aos seus proprietários ou aos herdeiros.

[Notada edição: Os princípios em questão remetem a um acordo assinado por 44 países ao fim de uma conferência sobre questões patrimoniais relativas ao holocausto, realizada em Washington em 1998. Eles estipulam as regras de restituição de bens culturais expropriados durante o período nazista.]

Porque alguns museus ainda têm problema de apurar seu envolvimento com o nazismo?

De modo geral , acho que esse problema foi reconhecido, sim, e a maior parte dos museus está interessada em encontrar uma solução. No começo foi difícil, pois as pesquisas de procedência consumiam muito tempo.

Mas desde a criação da Central de Pesquisa de Proveniência, que apoia museus e ajuda a financiar pesquisadores na Alemanha, cada vez mais museus começaram a participar.

[Nota da edição: A Central de Pesquisa de Proveniência (Arbeitsstelle für Provenienzrecherche/-forschung), fundada em 2007 com apoio do governo federal alemão, é encarregada de ajudar os museus a investigar casos de expropriação por parte dos nazistas. Essa fundação trabalha em cooperação com o banco de dados online LostArt.de.]

Entrevista: Conny Paul (np)
Revisão: Simone Lopes