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Patrimônio cultural

29 de novembro de 2009

"Parece até uma história de Kafka", diz uma das herdeiras dos manuscritos do escritor tcheco. As autoridades israelenses reivindicam o espólio que herdeiras pensam em destinar ao Arquivo Alemão de Literatura em Marbach.

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Kafka, sepultado em Praga, vira objeto de disputa entre Alemanha e IsraelFoto: picture-alliance/ dpa

Os manuscritos do escritor tcheco de língua alemã Franz Kafka (1883-1924) se tornaram objeto de uma disputa entre o Estado de Israel e os herdeiros do espólio.

Eva Hoffe (75), proprietária de inúmeros manuscritos originais de Kafka, fez severas críticas contra as autoridades israelenses ao semanário alemão Die Zeit. Em decorrência de um processo de partilha de bens de herança, Hoffe de repente se viu diante de três advogados que explicaram que a Biblioteca Nacional de Israel está reivindicando a posse dos documentos. "Foi horrível", declarou ela, "parecia até uma história de Kafka!".

Até agora, as autoridades israelenses não justificaram essa iniciativa. Eva Hoffe, residente em Tel Aviv, supõe que o país esteja apostando no passar do tempo. "Eu e minha irmã já temos uma idade avançada; talvez eles estejam esperando que alguma hora a questão se resolva por si própria", suspeita.

O Processo continua em Marbach

A mãe de Hoffe ganhou os manuscritos de presente de Max Brod (1884-1968), escritor amigo de Kafka, responsável pela publicação póstuma de suas obras e administrador de seu espólio. Posteriormente, ela também herdou os próprios arquivos de Brod.

Os manuscritos de Kafka estão guardados no cofre de um banco suíço. Hoffe cogitou doar todos os documentos ao Arquivo Alemão de Literatura em Marbach, no sul da Alemanha. Afinal, a maioria dos textos de Kafka foram escritos em alemão. O acervo do arquivo inclui, além do mais, os espólios de diversos escritores que mantiveram correspondência com Max Brod.

Max Brod
Max Brod, em 1964Foto: dpa

O manuscrito da obra O Processo já se encontra em poder do arquivo alemão, tendo sido arrematado em leilão há 20 anos. Ulrich von Bülow, diretor da seção de manuscritos em Marbach, considera infundadas as reivindicações feitas pelas autoridades israelenses ao arquivo. "A disputa se refere ao espólio de Max Brod; O Processo não faz parte disso", argumentou, explicando que Brod – como jurista – naturalmente documentou a doação do manuscrito à sua secretária Esther Hoffe. Isso significa que os herdeiros têm todo o direito de vender o documento.

Mesmo assim, o arquivo de Marbach pretende manter diálogo com a Biblioteca Nacional de Israel sobre esse impasse.

SL/dpa/kna
Revisão: Roselaine Wandscheer