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Educação

17 de novembro de 2009

Em 50 cidades alemãs, estudantes foram às ruas para protestar contra o Processo de Bolonha e reivindicar educação gratuita para todos. Manifestantes querem que os protestos sejam seguidos mundialmente.

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Fantasiados de 'robôs da educação', estudantes começaram os protestos em junhoFoto: DW

Algumas coisas não mudam nas universidades alemãs: as salas de aula lotadas já existem há 25 anos, assim como prédios em estado precário, armadilhas da burocracia, caos de informações no início dos estudos e nas provas.

Mas agora, além de tudo isso, as universidades alemãs enfrentam uma grande mudança: o sistema moderno e enxuto dos programas de bacharelado e mestrado, já adotado por 75% das universidades no país.

O novo sistema faz parte do Processo de Bolonha, assinado em 1999 na cidade homônima, que pretende unificar o sistema universitário europeu até 2010. Até agora, 46 países fazem parte do acordo que determina que todas as universidades envolvidas devem oferecer os títulos de Bachelor (bacharelado), Master (mestrado) e Promotion (doutorado).

Logo Bildungsstreik 2009
'Greve do ensino' leva às ruas milhares de jovens alemãesFoto: bildungsstreik.net

Outro objetivo do Processo de Bolonha seria aumentar a mobilidade estudantil entre países europeus. Porém, neste aspecto o novo sistema ainda deixa a desejar, embora o número de estudantes que estuda no exterior tenha aumentado de 23% para 26% entre 2007 e 2009. A meta seria que este número chegasse a 50%.

"Education is not for sale"

O novo sistema é mal visto entre os estudantes, que desde junho organizam o movimento Bildungsstreik (greve no ensino) que já levou milhares de jovens de diferentes regiões da Alemanha às ruas. De acordo com Jenny Morin, estudante da Universidade de Colônia e assessora de imprensa do Bildungsstreik, aproximadamente 88 mil jovens de 50 cidades alemãs participaram das manifestações nesta terça-feira (17/11).

Com o slogan "Education is not for sale" (educação não está à venda), estudantes das universidades e do Ginásio – o Ensino Médio do país – defendem também o acesso livre e gratuito ao ensino superior e o fim da influência dos interesses econômicos nos sistemas educacionais. "A ideia seria espalhar este movimento não somente na Europa, mas no mundo inteiro", explica Morin.

Segundo Nadine Mayer, estudante da Universidade de Heidelberg, em Baden-Württemberg, as universidades da Alemanha estão de certa forma sendo "privatizadas". "Em Frankfurt, por exemplo, existem salas de aula que levam nomes de empresas", conta a estudante. Para ela, este tipo de investimento tira a liberdade das universidades como instituição independente.

Contra o Processo de Bolonha

Outra reivindicação do movimento estudantil é o fim do Bachelor e suas restrições, como o sistema de grade fechada, o tempo limitado para terminar os estudos e as constantes avaliações.

Bildungsstreik
Manifestantes ocupam a frente da Universidade Ludwig Maximilian em MuniqueFoto: picture-alliance/ dpa

No sistema antigo das universidades alemãs, os estudantes tinham liberdade para escolher matérias de diferentes áreas e não tinham uma grade fechada. Nas aulas, o sistema de avaliações se diferenciava, ou seja, os alunos podiam escolher se fariam prova, uma apresentação ou um ensaio. Além disso, eles tinham tempo ilimitado para terminar a universidade, o que lhes dava tempo para trabalhar e estudar ao mesmo tempo.

A ministra de Educação da Alemanha, Annette Schavan, diz que compreende a onda de protestos dos estudantes, pois "eles precisam de claros sinais de que haverá correções no novo sistema, ou seja, transparência, melhoras na mobilidade estudantil". Para ela, isso seria um indício de que o que foi decidido será introduzido no sistema de educação.

Universidades gratuitas

O fim das taxas estudantis, ou Studiengebühren, cobradas por várias instituições de ensino superior na Alemanha, também faz parte das reivindicações. Antes, para estudar no país, os estudantes pagavam somente as taxas sociais, mas desde 2002 devem pagar também uma taxa de estudos, que varia nos estados alemães. Em Hamburgo, por exemplo, ela é de 500 euros.

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, anunciou que a educação será um tema dominante nas próximas semanas e meses. A chefe de governo pretende discutir com os governadores estaduais como viabilizar a promessa de, até 2015, investir 7% do Produto Interno Bruto (PIB) na educação.

Em relação ao fim das taxas estudantis, os estudantes contam com o apoio do partido de oposição SPD (Partido Social-Democrata), que "defende a educação gratuita do jardim-de-infância até o mestrado nas universidades", anunciou a assessoria do partido. No entanto, o governador da Baviera, Horst Seehofer, da União Social Cristã (CSU), já deixou claro que não se deve esperar muito do governo neste ponto, pois, de acordo com ele, "as taxas estudantis vão permanecer".

Autora: Júlia Braga Neves

Revisão: Roselaine Wandscheer