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Fim de uma democracia exemplar - um comentário sobre as eleições em Moçambique

29 de outubro de 2009

Os moçambicanos foram às urnas no dia 28 de Outubro de 2009. Tudo aponta para uma vitória do partido FRELIMO, no poder desde a independência em 1975. Johannes Beck comenta o desfecho do escrutínio.

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Johannes Beck - Deutsche Welle
Johannes Beck - Deutsche WelleFoto: DW/P. Henriksen

"Pérola da cooperação no Oceano Índico", "democracia exemplar" e "país africano de sucesso". Nos últimos tempos, instituições como o Banco Mundial, a União Europeia e o Governo federal alemão, não pouparam elogios à boa governação e à democratização em Moçambique. Mas as eleições de 28 de Outubro, apesar de bem organizadas e executadas, acusam defeitos de monta.

O incumprimento da lei pela CNE

A falta mais grave foi cometida pela Comissão Nacional de Eleições, quando excluiu as listas da terceira força política emergente, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) de nove dos 13 círculos eleitorais do país. Um número de outros pequenos partidos também foi excluído da votação.

A Comissão Nacional de Eleições justificou a sua decisão com a falha dos candidatos de entregar documentos como o certificado de registo criminal. Mas apesar de insistir no respeito à letra da lei por parte dos candidatos, a própria comissão não cumpriu os regulamentos. Por exemplo, recusou ao MDM um prazo para a entrega dos documentos em falta, assim como a possibilidade de substituir os candidatos. Trata-se de uma violação clara da lei. Além disso, aquela entidade não justificou, até hoje, detalhadamente, as suas decisões, vedando o acesso a documentos relevantes.

A Freliminização de Moçambique

Outras ocorrências tornaram estas eleições pouco justas. Os candidatos da FRELIMO recorreram sem pejo a recursos do Estado. Por exemplo, usando regularmente carros de serviço da administração pública para a deslocação durante a campanha eleitoral.

Não é novidade para ninguém que em Moçambique é cada vez mais difícil distinguir entre a administração pública e o partido FRELIMO. Desde a tomada de posse do Presidente, Armando Guebuza, em 2004, os funcionários do país sofrem uma pressão enorme para aderirem ao partido governamental. A FRELIMO reserva para os seus membros os cargos mais importantes, vedando o acesso à administração aos especialistas independentes.

Os doadores internacionais deviam agir

Chegou a altura dos países doadores reivindicarem claramente uma maior democratização. O primeiro passo poderia ser a suspensão ou a redução drástica dos apoios directos alemães ao Orçamento de Estado de Maputo. Afinal de contas, entre as condições impostas pelo governo alemão para a concessão da ajuda orçamental destacam-se a boa governação e o respeito pelas regras da democracia.

Este seria um sinal inequívoco e bastante doloroso para o Governo de Moçambique. Metade do Orçamento de Estado é financiado directamente por ajudas externas. O que não impediria que fossem levados avante os projectos em curso em Moçambique financiados pelos doadores, uma vez que é mais fácil controlar a aplicação financeira neste contexto.

Ainda não é tarde para salvar a democracia em Moçambique. Mas para isso é necessário que os países doadores tornem explícita a necessidade de uma mudança de rumo da FRELIMO. É preciso impedir que se repitam eleições injustas como as de 28 de Outubro passado.

Autor: Johannes Beck, Deutsche Welle
Adaptação: Cristina Krippahl
Redação: Madalena Sampaio