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Vantagem competitiva

5 de agosto de 2009

Número de estudantes brasileiros da língua alemã supera os 70 mil. Alemanha investe 7,5 milhões de euros por ano no ensino do idioma no Brasil, país da América Latina que recebe a maior parcela dos recursos.

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Estudantes brasileiros do projeto PaschFoto: Júlia Carvalho Dias Carneiro

"Guten Tag! Todo dia é um bom dia para aprender alemão." O anúncio que está no vidro de trás de vários ônibus municipais no Rio de Janeiro convida a estudar alemão no Instituto Goethe.

Que um pouco da língua de Goethe circule de ônibus pelo Rio não é de se estranhar. O número de pessoas que estuda o idioma vem crescendo no Brasil. Se, em 1995, havia cerca de 30 mil estudantes se dedicando à língua em todo o país, hoje esse número é estimado em mais de 70 mil, incluindo escolas, universidades ou cursos particulares.

Por meio do Orgão Central das Escolas Alemãs no Exterior (ZfA, na sigla em alemão), o governo do país investe 7,5 milhões de euros por ano no ensino da língua no Brasil.

O valor é o mesmo que o órgão injeta nos Estados Unidos e faz com que o Brasil detenha o primeiro lugar na lista dos países da América Latina. Atrás vêm México, Argentina e Chile, segundo o coordenador do ZfA para a região, Wolfgang Theis. "O Brasil recebe um sexto do nosso orçamento para a América Latina", comenta.

Deutsch in Brasilien
Estudantes de alemão em Santa CatarinaFoto: DW

O ZfA tem como principal atribuição fomentar o alemão nas escolas, mas não é o único órgão que trabalha para disseminar a língua no Brasil. O Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), por exemplo, atua junto aos universitários, e o Instituto Goethe está aberto à toda população – ainda assim, o aluno típico do Goethe tem entre 18 e 25 anos e cursa o ensino superior, em geral direito, ciências exatas, economia, medicina e artes plásticas.

Segundo Cristina Shibuya, responsável pelo Departamento de Ensino do Instituto Goethe São Paulo, a maior motivação é ter um diferencial no estudo e na profissão. "Muitos pretendem fazer um intercâmbio, mestrado ou doutorado na Alemanha. Outros aprendem alemão porque se interessam pela cultura alemã", conta.

Vantagem no mundo globalizado

Das 13 unidades que o Goethe tem na América do Sul, cinco estão no Brasil, que responde por 36,5% dos alunos na região (em 2008 eram 7.642 alunos inscritos no país).

Segundo Hans-Dieter Dräxler, diretor do Departamento de Ensino do Goethe para a América do Sul, a instituição investe cerca de 10 milhões de euros por ano na região, e a parcela que cabe ao Brasil geralmente fica na casa dos 40% em diversos setores – por exemplo, 42% dos recursos destinados pelo Goethe ao desenvolvimento de projetos vão para o país.

O crescente interesse pelo alemão está diretamente ligado à globalização, considera Dräxler. "Como os laços entre a Alemanha e o Brasil se fortaleceram muito, é natural que as relações transcorram na língua de um dos dois", diz ele. "A questão não é mais aprender inglês ou alemão, e sim aprender inglês e alemão."

Segundo Wolfgang Theis, do ZfA, a globalização fez com que os pais tivessem cada vez mais interesse em proporcionar para os filhos uma educação internacional.

"Há 10 ou 15 anos, muitos pais procuravam escolas alemãs apesar do alemão, motivados pela tradição e nível de ensino. Nos últimos anos, isso mudou radicalmente. Cresceu a consciência de que uma língua como o alemão pode ser muito importante para o futuro."

Para Theis, o jovem que recebe uma educação globalizada não se sente preso geograficamente. "Ele vai para onde achar trabalho, seja na Alemanha ou na Cidade do Cabo, seja em Cingapura ou São Paulo."

Projeto vai dobrar número de escolas parceiras

O ZfA tem 23 escolas parceiras no Brasil, somando 22 mil alunos. Quatro delas são escolas alemãs – as chamadas Begegnungsschulen, ou "escolas de encontro", com disciplinas ministradas em alemão e a possibilidade de fazer o Abitur (o vestibular germânico) ao final do curso.

As demais são Sprachdiplomschulen, que têm o ensino do alemão como língua estrangeira e almejam um nível de diploma que permitiria aos alunos frequentar universidades alemãs.

Mas esses números estão no processo de se multiplicar por dois, graças a um programa do Ministério alemão das Relações Exteriores conhecido como Pasch – sigla em alemão para o projeto Escolas: Uma parceria para o futuro.

Lançado em nível global no ano passado, o projeto tem por meta formar uma rede de mil escolas no mundo todo com ensino do alemão. No Brasil, o número de parceiros almejados foi fixado em 23, objetivo que já está parcialmente cumprido: segundo Martin Wille, gerente regional do Pasch, 18 escolas já aderiram.

Deutsch in Brasilien
Maria Vitória (d): 'Alemão pode me trazer boas oportunidades'Foto: DW

"O Pasch consiste em captar escolas de excelência do mundo inteiro que queiram introduzir ou fortalecer o ensino do alemão, seja na grade curricular ou extracurricular", explica Wille, que trabalha para o Instituto Goethe, responsável pela execução do projeto no Brasil com apoio do ZfA e do DAAD.

Aulas, bolsas e infraestrutura

Nas escolas parceiras, os alunos não apenas aprendem o idioma como também concorrem a bolsas para conhecer o país. De 2008 para cá, mais de 90 alunos da rede receberam o benefício, passando três semanas na Alemanha para estudar o idioma e visitar cidades como Berlim, Heidelberg e Frankfurt – isso enquanto conviviam com alunos de outros países do Pasch.

"Esses alunos vão para a Alemanha e têm contato com jovens do mundo todo. Voltam maravilhados, porque agora têm amigos no Paquistão, na Rússia, na Indonésia", conta Wille, explicando que as bolsas vão para jovens de 15 a 18 anos que se destaquem de alguma forma, seja no estudo do alemão, seja fazendo trabalhos sociais na comunidade.

O programa também inclui bolsas de estudo para professores e o fornecimento de equipamentos – desde livros a computadores – para o ensino do alemão.

As escolas do Pasch vêm se somar a outras com longa tradição no ensino do alemão – algumas com histórias centenárias, caso do Colégio Cruzeiro, no Rio de Janeiro, e do Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo.

O nível de alemão que se almeja nas escolas do Pasch (B1, equivalente ao nível intermediário) também é menor do que o alcançado nas 23 escolas parceiras do ZfA, das quais muitos alunos saem falando alemão o suficiente para entrar em universidades alemãs.

Piauí, Pernambuco e Mato Grosso do Sul

No entanto, enquanto as tradicionais parceiras do ZfA são particulares e estão todas concentradas no eixo sul-sudeste, o Pasch leva o idioma para outras regiões do país e contempla algumas instituições públicas, como o Colégio de Aplicação da Ufrgs, no Rio Grande do Sul, e o Ginásio Pernambucano, em Pernambuco.

O projeto já conseguiu parceiras nas cidades de Teresina, Salvador, Recife, Campo Grande e Vitória – mesmo estando no sudeste, o Espírito Santo ainda tinha pouca presença do Goethe, aponta Wille. O projeto na capital do estado será deslanchado durante o Encontro Econômico Brasil-Alemanha, que acontece em Vitória de 30 de agosto a 1 de setembro.

Aluna do Colégio Vértice, um dos parceiros do Pasch em São Paulo, Maria Vitória Tavares, de 14 anos, se matriculou nas aulas de alemão extra-curriculares oferecidas pela escola desde fevereiro.

Ninguém de sua família fala alemão, mas ela resolveu investir no estudo de olho no futuro. "Acho que o alemão pode me trazer boas oportunidades. Gostaria de fazer um intercâmbio na Alemanha na faculdade, e tem várias empresas interessantes lá", considera.

Autora: Júlia Dias Carneiro
Revisão: Alexandre Schossler