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Ahmadinejad no poder

5 de agosto de 2009

Presidência da UE participa da cerimônia de posse do presidente iraniano após ter repudiado a falta de transparência no processo eleitoral e a repressão dos protestos populares. Políticos de diversas facções criticam.

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Discurso de posse excepcionalmente não continha críticas aos EUA e à EuropaFoto: AP

Protestos de oposicionistas acompanharam nesta quarta-feira (05/08) a posse do presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, reeleito para um segundo mandato consecutivo. Nas proximidades do Parlamento em Teerã, as forças de segurança reprimiram com cassetetes centenas de manifestantes, segundo relatos de testemunhas oculares. Ao menos dez pessoas foram detidas.

Em seu comedido discurso de posse, Ahmadinejad conclamou a nação à unidade: "Temos que nos manter unidos enquanto avançamos, a fim de atingir as nossas metas", declarou ele, sem se referir à resistência da população à sua reeleição. No entanto, o presidente empossado também mencionou que não pretende tolerar "desrespeito, intromissão e ofensas".

A tônica do discurso de posse, no entanto, foi a política externa. Ahmadinejad confirmou seu empenho em proteger as fronteiras do Irã, mas – ao contrário do que costumava fazer em pronunciamentos anteriores – não fez nenhuma crítica explícita aos EUA e à Europa Ocidental.

Líderes da oposição e deputados de centro boicotaram a posse. Eles acusam Ahmadinejad de ter fraudado as eleições, segundo eles vencidas pelo candidato adversário, Mir Hussein Mussavi. As eleições de 12 de junho no Irã foram sucedidas por protestos de massa, em parte tolerados e em parte violentamente reprimidos. Ao menos 30 manifestantes foram mortos.

Presidência sueca da UE quer manter canal aberto com Teerã

Após a controversa eleição presidencial no Irã, a União Europeia (UE) pressionou Teerã a apurar as acusações de fraude eleitoral e condenou com rigor o uso da violência contra os protestos populares.

Mesmo assim, a presidência da UE – ocupada pela Suécia durante o segundo semestre deste ano – enviou a Teerã um representante para a posse de Ahmadinejad.

Estrutura do Poder no Ira

"É importante que a presidência da UE mantenha um canal de comunicação diplomático com o governo iraniano", justificou o Ministério do Exterior da Suécia, em Estocolmo. O representante enviado à cerimônia de posse foi o embaixador sueco no Irã.

Em Estocolmo, o Ministério do Exterior ressaltou que a participação na cerimônia não significa de forma alguma que a UE endosse as violações dos direitos humanos no Irã, lembrando que a presidência sueca do bloco repudiou com clareza a violenta repressão dos protestos após as eleições presidenciais no país.

Outras nações europeias a enviar embaixadores à cerimônia de posse da Ahmadinejad foram a França, o Reino Unido e a Espanha. A Alemanha também participou do evento, representada por um diplomata de escalão inferior. O Ministério do Exterior em Berlim comunicou ter tomado a decisão em conjunto com as instâncias europeias.

"Atestado de pobreza para a política europeia"

O deputado europeu democrata-cristão Elmar Brok criticou severamente a participação da presidência sueca na posse de Ahmadinejad.

"Durante as últimas semanas, a União Europeia não parou de exigir a recontagem dos votos e a realização de um novo pleito no Irã, além de ter condenado com rigor a repressão dos protestos e as prisões de manifestantes", lembrou Brok.

Ao comparecerem à posse, no entanto, os europeus despertam a impressão de estarem legitimando a eleição de Ahmadinejad a posteriori, criticou o parlamentar.

O porta-voz de política externa dos partidos cristãos conservadores no Parlamento alemão, Eckart von Klaeden, também condenou o envio do embaixador sueco à cerimônia em Teerã.

Para ele, a presidência da UE deveria ter seguido o exemplo da maioria dos países do bloco, resguardando-se de enviar representantes à posse. Na opinião do político conservador, a Europa deveria ter uma postura coesa quanto ao repúdio às fraudes eleitorais e à repressão da oposição no Irã.

Políticos verdes também criticaram com rigor a participação de representantes da UE e da diplomacia alemão na cerimônia de posse da Ahmadinejad. Claudia Roth, membro da presidência do Partido Verde alemão, considera a participação "um sinal avassalador para as pessoas no Irã e um atestado de pobreza da política externa europeia".

Para ela, a reeleição de Ahmadinejad é "resultado de uma fraude eleitoral sistematicamente organizada", o que torna "absolutamente incompreensível" a presença de representantes europeus na cerimônia. Roth afirmou que o governo iraniano não merece "reconhecimento algum".

SL/ap/afp
Revisão: Alexandre Schossler