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Ajuda ao desenvolvimento

28 de julho de 2009

Que a ajuda ao desenvolvimento está ligada a interesses políticos externos é uma verdade antiga. Mas, após os atentados de 11 de setembro de 2001, tornou-se mais clara sua ligação com a política externa e de segurança.

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Parceira civil-militar no AfeganistãoFoto: picture-alliance / dpa/dpaweb

Em 1981, a Alemanha foi o primeiro país ocidental a criar um Ministério da Cooperação Econômica e Desenvolvimento. Um exemplo logo seguido por outros países. Pois, durante a fase da descolonização, surgiram dezenas de novos Estados que precisavam em primeira linha ser desenvolvidos.

Rapidamente, todavia, a ajuda ao desenvolvimento virou motivo de críticas. Alguns achavam que os países receptores iriam desperdiçar o dinheiro recebido, outros eram da opinião que por trás da ajuda ao desenvolvimento se escondiam interesses próprios das nações doadoras.

Que a ajuda ao desenvolvimento está ligada a interesses políticos externos é uma verdade tão antiga quanto a própria ajuda ao desenvolvimento. Com a independência das antigas colônias europeias na África e na Ásia, em meados do século passado, as duas superpotências de então, Estados Unidos e União Soviética, esforçaram-se para atrair as novas nações com o dinheiro para o desenvolvimento. Com isso, levaram a Guerra Fria até os cantos mais longínquos do planeta.

Já países como a França, por exemplo, eram conhecidos por pagar auxílios generosos a ditadores para garantir a lealdade de suas antigas colônias. Mas, diferentemente do que ocorre hoje, raramente autoridades de diversos países – inclusive da Alemanha – reconheciam o papel político externo da ajuda ao desenvolvimento.

Nova cooperação

Computerunterricht im SOS Kinderdorf in Sambia
Álemanha começa mudar política para ÁfricaFoto: www.BilderBox.com

Bernd Eisenblätter, gerente executivo da Cooperação Técnica Alemã (GTZ), diz considerar sua empresa também como um instrumento da política de segurança. "O número de regimes instáveis não diminui. É só pensar em países como Afeganistão, Sudão e República Democrática do Congo. E é grande o número de conflitos. As causas deles não podem ser combatidas somente com os instrumentos clássicos da política de segurança, mas devem, em primeira linha, ser superadas através de um trabalho sustentável de ajuda ao desenvolvimento."

Quando um pequeno grupo de terroristas mostrou a vulnerabilidade da superpotência Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, eles também mostraram ao Ocidente que a ameaça não provinha somente de países ascendentes ou concorrentes, mas também de Estados fracos e arruinados.

O Afeganistão, o refúgio do Al Qaeda, tornou-se não somente um alvo militar, mas também um dos principais países receptores de dinheiro da ajuda ao desenvolvimento ocidental.

Parceria civil-militar

O país se tornou também um campo experimental para uma nova cooperação entre a política de ajuda ao desenvolvimento e as políticas externa e de segurança. Organizações de ajuda ao desenvolvimento, unidades militares e policiais trabalham juntas no país, nos assim chamados PRTs (sigla em inglês para Grupos de Reconstrução das Províncias). Não é raro soldados assumirem afazeres que pertencem às tarefas clássicas civis da ajuda ao desenvolvimento.

Se dependesse dos governos ocidentais, organizações não governamentais (ONGs) também seriam envolvidas. Mas elas se recusam a participar, afirma Jürgen Lieser, vice-presidente da Venro, uma associação de organizações não governamentais alemãs de ajuda ao desenvolvimento.

Lieser argumenta que os crescentes problemas que as organizações de ajuda humanitária enfrentam nos últimos anos também estão ligados à essa mescla de tarefas civis e militares.

"Isso leva as forças de resistência no Afeganistão a não fazer mais uma distinção entre as Forças Armadas – que eles obviamente veem como forças de ocupação – e as organizações ocidentais de ajuda humanitária."

Mudança de atitude

É difícil dizer se o modelo seguido no Afeganistão é a regra ou um caso particular. Tradicionalmente, a maior parte da ajuda ao desenvolvimento alemã é destinada à África – um continente que nas últimas décadas não teve destaque entre os interesses políticos da Alemanha, afirma Dennis Tull, especialista em assuntos africanos da Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), de Berlim.

"Pode-se dizer que, durante décadas, a política alemã para a África se limitou à ajuda ao desenvolvimento. Se não havia política de ajuda ao desenvolvimento em relação a um país, então possivelmente não havia nenhum outro tipo de política", afirma Tull.

No entanto, muita coisa mudou no continente africano. A economia de alguns países começou a crescer, e com a China e também a Índia novos concorrentes se apresentam.

Ao mesmo tempo, a África vivenciou nas últimas duas décadas uma fase sem precedentes de conflitos sangrentos e instabilidade, o que naturalmente também afetou a política alemã para o continente.

De acordo com Tull, a tendência atual é de uma política bem mais ampla para o continente africano, incluindo, por exemplo, questões relacionadas com a segurança. A Alemanha está apenas no começo de uma nova – e mais ampla – política para a África, comenta. A mudança, no entanto, já começou. Nos últimos tempos, a GTZ recebeu diversas propostas de trabalho do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.

Autor: Mathias Bölinger

Revisão: Alexandre Schossler