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Nazismo

3 de julho de 2009

Grupo de ex-desertores e condenados pela Justiça militar nazista lutam por reabilitação oficial. Lei que suspende validade de veredictos da época será discutida pelo Parlamento.

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Soldados na Segunda Guerra Mundial: suposta 'traição' não é reconhecida como resistência ao nazismoFoto: picture-alliance / dpa

Mais de seis décadas após o fim da Segunda Guerra Mundial, os chamados "traidores de guerra" esperam uma reabilitação por parte do governo alemão. Depois de longos debates, poderá ser aprovada pelo Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) uma lei que suspende a validade dos veredictos da Justiça militar expedidos durante o período nazista. Para os sobreviventes, trata-se de denominar, enfim, essas decisões como o que realmente foram: veredictos aleatórios e injustos.

Em fins de agosto próximo, o Parlamento deverá se reunir numa sessão extraordinária para debate que poderá levar à aprovação desta nova lei. Condenados durante o nazismo eram todos os que, de alguma forma, manifestassem dúvidas quanto à vitória das Forças Armadas alemãs na guerra. Os juízes militares da época condenaram mais de 30 mil pessoas à morte.

Como sinal de "desagregação da Wehrmacht" já era suficiente qualquer contato com prisioneiros de guerra ou principalmente ajuda a judeus. Depois do fim da guerra, em 1945, as vítimas da Justiça nazista continuaram socialmente banidas, enquanto juízes coniventes com o nazismo continuaram exercendo suas profissões na então Alemanha Ocidental.

Luta pela reabilitação

Graças à perseverança e o empenho de algumas dessas vítimas da Justiça e de alguns cientistas e políticos, os chamados "traidores de guerra" podem, agora, esperar por uma reparação oficial. Uma dessas vítimas é Jan Korte, deputado de Hannover do partido A Esquerda. Há três anos, ele luta pela reabilitação das vítimas da Justiça do governo nazista, argumentando que o que foi considerado traição pelos nazistas era, de fato, resistência às atrocidades do regime.

"Trata-se de reconhecer a resistência e a desobediência de soldados simples, abolir seus antecedentes criminais e deixar claro que essas pessoas precisam de reconhecimento. Pois elas agiram, como mostram pesquisas recentes, essencialmente guiadas por suas consciências. Elas se desvincularam da máquina de extermínio nazista", diz Korte.

Associação de vítimas

Para Ludwig Baumann, a nova lei que reabilita as vítimas da Justiça nazista será a "concretização de um sonho". O ex-soldado da Wehrmacht, desertor da Segunda Guerra, foi torturado e condenado à morte, tendo sido um entre os poucos sobreviventes entre os condenados.

Em 1990, ele fundou, ao lado de 36 outras pessoas, uma associação de vítimas da Justiça militar nazista. "E desde então luto também no Bundestag pela reabilitação, pela suspensão dos veredictos e pela reabilitação de nossa dignidade", conta Baumann.

Ele já havia sido beneficiado em 2002 por uma lei que reabilitou os desertores. Os chamados "traidores de guerra", no entanto, continuaram sendo juridicamente considerados criminosos.

A presidente da comunidade judaica de Berlim, Lala Süsskind, é uma das personalidades que defendem a suspensão oficial dos veredictos em relação a essas pessoas. Süsskind enviou uma carta oficial a todas as bancadas do Parlamento explicitando seu ponto de vista na questão.

Ostracismo e sofrimento

Tanto Korte quanto o parlamentar Wolfgang Wieland, do Partido Verde, lembram que tirar a validade dos veredictos da Justiça militar nazista representa romper o "último tabu" da justiça aleatória do regime de Hitler.

Korte salienta ainda o ostracismo em que viveram os que lutaram na resistência ao nazismo. "Os membros da resistência do 20 de julho de 1944 foram considerados traidores, sujos e coisas parecidas, contra os quais queria-se lutar em prol de uma Wehrmacht limpa", descreve Korte.

Mesmo diante de toda a satisfação em presenciar a reabilitação dos chamados "traidores de guerra", o desertor Ludwig Baumann afirma que jamais esquecerá o passado, já que seu sofrimento se perpetua até hoje. "Isso foi para mim um horror tamanho, que me acompanha até hoje", completa.

Autor: Marcel Fürstenau

Revisão: Roselaine Wandscheer