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Cúpula do Bric

16 de junho de 2009

Primeira cúpula oficial de líderes dos países do Bric – Brasil, Rússia, Índia e China – pode ser um sinal de mudança na ordem mundial, com a era das superpotências dando lugar a uma estrutura multipolar, diz analista.

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Lula e Medvedev em YekaterinburgFoto: picture-alliance/ dpa

Quando as gerações futuras olharem para trás para avaliar a atual crise financeira, elas certamente notarão uma mudança na distribuição de poder entre as potências mundiais. Enquanto países ocidentais ricos – especialmente os Estados Unidos – lutam para se recuperar da crise, países emergentes avançam em poder econômico, ganhando assim maior influência global.

Para muitos observadores, o primeiro encontro oficial dos países conhecidos pela sigla Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) pode ser um sinal de que a ordem mundial está mudando. Não é coincidência que os líderes dos quatro países se reúnem nesta terça-feira (16/06) em Yekaterinburg, na Rússia, para um primeiro encontro de cúpula do grupo.

Poder econômico

O acrônimo Bric foi criado em 2001 por um analista do banco Goldman Sachs, que acreditava que, em 2050, o grupo acumularia 50% do Produto Interno Bruto mundial e sua força econômica ultrapassaria a economia combinada das atuais potências. O banco nunca chegou a mencionar que o grupo se organizaria num bloco econômico, embora recentemente tenha havido sinais de que o acrônimo passou a representar muito mais do que previsto originalmente.

"Foi a crise econômica que uniu esses países", diz Thomas Renard, pesquisador do Egmont – Instituto Real de Relações Internacionais, em Bruxelas. Ele lembra que, em março último, os países do Bric fizeram um primeiro comunicado coletivo no encontro do G20, cobrando uma "reforma das instituições financeiras internacionais". No entanto, o pesquisador acredita que as nações do Bric estão longe de formar uma entidade política.

"O termo Bric dá uma impressão equivocada de que esses países estejam organizados em bloco de uma forma concreta", explica Renard. "Mas eles são, na verdade, um grupo informal dentro dos fóruns mundiais que por vezes se reúnem para debater pontos de vista e que, quando chegam a um acordo, defendem uma posição coletiva. Mas, ao mesmo tempo em que há muitas características que os unem, também há muitas que os dividem", completa.

Pressão internacional

Por isso, muitos observadores acreditam que o encontro em Yekaterinburg será focado principalmente em aspectos econômicos. Afinal, juntos os países do Bric respondem hoje por 15% da economia mundial e acumulam 42% das reservas financeiras mundiais, o que provavelmente servirá de argumento para seus chefes de governo cobrarem uma maior participação do grupo em decisões globais.

O crescente poder econômico dessas nações ganhou evidência na semana passada, quando Brasil e Rússia anunciaram que seguiriam o exemplo da China e emprestariam aproximadamente 50 bilhões de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI) através da aquisição do bônus da entidade.

A iniciativa foi interpretada por alguns como uma tentativa de minimizar a importância do dólar, em parte devido à declaração do presidente russo de que sua proposta de criação de uma nova moeda internacional poderia ser discutida durante a cúpula. No entanto, especialistas em regulamentação fiscal dizem que os países do Bric devem tratar o assunto com muito cuidado, pois estimular uma crise do dólar seria atirar no próprio pé.

"O Bric está alertando os Estados Unidos de que é preciso haver uma redução nos gastos e de que eles precisam colocar a casa em ordem", disse Mark Mobius, especialista em mercados emergentes da Templeton Asset Management, à Bloomberg. "Qualquer ataque ao dólar seria prejudicial ao Bric. Mas esses países querem ter certeza de que uma bagunça como essa não vai acontecer de novo."

O que está claro para o especialista é que o Bric tenta aproveitar sua nova influência para pressionar o FMI a reformular seu sistema de votação a fim de refletir mudanças na ordem econômica. O Brasil, por exemplo, tem a décima economia do mundo, mas apenas 1,38% dos votos no FMI, enquanto a Bélgica, cuja economia é um terço da brasileira, tem 2,09%.

China superpoderosa

A China também é uma forte candidata a exercer um papel importante no cenário mundial, apesar de no passado ter preferido desempenhar um papel coadjuvante. "A China percebeu que pode se tornar uma potência bem mais rapidamente do que pensava", diz Renard. "E os Estados Unidos perceberam isso também. A China já é tratada como potência pelos EUA, pelo menos no aspecto econômico, com os dois países formando uma espécie de G2."

Enquanto o poder da China é visto por muitos países ocidentais como uma ameaça, Renard argumenta que o medo é infundado. "O mundo de hoje é caracterizado pela interdependência", diz. "Mesmo para a China, não é hora de pensar em ganhos individuais, mas em minimizar os prejuízos que todos nós sofremos."

Para Renard, o mundo está passando de unipolar a multipolar, e não deve surgir nos próximos anos uma superpotência capaz de rivalizar com os Estados Unidos. "Para ser uma potência mundial, é preciso mais do que dinheiro. É preciso poderio militar e também outros mais sutis, como o cultural. Nesse sentido, os Estados Unidos ainda são líderes", argumenta Renard.

Em vez disso, o pesquisador sugere que seria melhor falar em políticas norte-americanas que prejudicaram a influência do país no mundo e que coincidiram com o "avanço do resto". Nesse "resto" estariam incluídos não só países emergentes, como os que formam o Bric, mas também "atores não estatais, organizações transnacionais como a Al Qaeda e instituições supranacionais como a União Européia, todos os quais desafiam cada vez mais a predominância dos Estados Unidos", finaliza Renard.

Autora: Deanne Corbett

Revisão: Rodrigo Abdelmalack

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