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Em época de crise

2 de junho de 2009

Um em cada quatro trabalhadores europeus não condena a corrupção, caso ela ajude as empresas a superar a crise econômica, revelou um estudo empreendido pela consultoria Ernst&Young.

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Luta contra corrupção não é tão pouco promissora assimFoto: AP

O principal resultado de uma pesquisa feita com 2.246 trabalhadores de 22 países europeus apontou que um quarto dos entrevistados considera justificado o pagamento de propinas durante a crise.

No Leste Europeu, a predisposição para colocar os negócios acima da moral se mostrou ainda maior, surpreendendo até mesmo o especialista no combate à corrupção Stefan Heissner, autor do estudo.

Dr Stefan Heißner Anti Korruptionsexperte bei Ernst & Young
Stefan Heissner, autor do estudoFoto: Ernst & Young AG

Mas, se um quarto dos entrevistados se dispôs a expressar abertamente tal opinião, é de se esperar que o total de trabalhadores que pensam dessa forma seja bem maior, explicou Heissner em entrevista à Deutsche Welle.

A culpa é da crise econômica. Cerca de 60% dos alemães esperam que haja um aumento da corrupção na economia, o que justificam através da enorme pressão a qual as empresas estão submetidas. Ou seja: subornar é melhor do que ir à falência.

Para Heissner, isso é compreensível do ponto de vista humano, mas proibido por lei. Quanto a isso, não há dúvidas, afirmou o especialista, lembrando que "uma sentença por corrupção ou suborno pode acabar com uma existência".

Redução de empregos e da moral

Também a moral pode acabar no fundo do poço, se uma empresa cortar postos de trabalho em grande estilo. Nisso acreditam, em média, 60% dos entrevistados europeus. Na Alemanha, essa cifra chega a quase 80%.

Quando há cortes de empregos, os empregados precisam se reorientar, esclarecer se ainda têm futuro na empresa ou se devem procurar por novas alternativas. "Quanto mais importância essa procura adquire, mais o empregado se desprende, pelo menos mentalmente, da companhia em que trabalha", explicou o especialista da Ernst&Young.

A redução maciça de empregos geralmente acompanha a fusão de empresas – processo que, para quase a metade dos alemães entrevistados, abre caminho para a corrupção. Pois, segundo Heissner, fusão não é somente a união de duas empresas, podendo significar também o choque de duas culturas empresariais distintas. Diferentes regulamentos de controle levariam, a princípio, a uma maior falta de transparência.

Lucro de ambos os lados

Precisamente em tempos de crise financeira, as cartas muitas vezes são redistribuídas em diversos ramos da economia, com fusões e incorporações na ordem do dia. Trata-se de fatores que dificultam ainda mais o combate à corrupção, que já é difícil em situações normais.

Segundo Stefan Heissner, o motivo é que ambos os lados lucram com a prática criminosa. "Em comparação com delitos de fraude, por exemplo, não se nota de imediato que alguém foi prejudicado", explicou.

Heissner deu como exemplo o setor de vendas. Segundo o especialista, quando um empregado desse setor pratica suborno, talvez seja visto como um funcionário ainda mais bem sucedido e que, mesmo em tempos de dificuldades econômicas, é capaz de gerar um volume respeitável de negócios para a empresa. Nesse caso, acresceu, é ainda mais difícil desvendar casos de corrupção, pois as provas encontram-se fora da empresa.

O especialista alertou, todavia, que a luta contra a corrupção não é tão pouco promissora como leva a crer o estudo da Ernst&Young. Na verdade, nos últimos anos, tem-se observado uma resistência à corrupção em nível global, explicou. Pois corrupção não somente diz respeito a empresas, mas representa um problema para toda a sociedade.

Autor: Zhang Danhong

Revisão: Rodrigo Abdelmalack