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Exposição

21 de maio de 2009

Exposição em Eisenach aborda o papel de Felix Mendelssohn como redescobridor da música de Johann Sebastian Bach. Enquanto o compositor judeu foi excluído pelos nazistas, Bach foi instrumentalizado como músico nacional.

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Escritos musicais antissemitas testemunham exclusão de Mendelssohn desde o nazismoFoto: Sigrid Hoff

"Sangue e Espírito – Bach, Mendelssohn e sua música no 'Terceiro Reich'": esse é o título da mostra organizada pela Casa de Bach, em Eisenach, por ocasião do aniversário de Felix Mendelssohn-Bartholdy. A exposição aborda a instrumentalização de Johann Sebastian Bach como músico nacional e a difamação da música de mendelssohniana por parte dos nazistas.

A obra do judeu Felix Mendelssohn (1809-1847), celebrada como rasgo de genialidade pelos estudiosos, passou a ser considerada um mero "incidente" da história da música pelos pesquisadores adeptos do regime nazista. O assustador é que essa avaliação continuou se repetindo nos verbetes de enciclopédia, mesmo após 1945. Numa vitrine da mostra de Eisenach, é possível conferir essa informação em importantes guias de concerto.

Arte da fuga é loira de olhos azuis

Gerald Voigt, cocurador da exposição, cita um exemplo: "Otto Schumann [1897-1981] incluiu em seu guia de concertos muitas observações antissemitas, totalmente normais na época. Disse que Mendelssohn era um exemplo típico de músico judeu, autor de uma música frouxa. Na edição dos anos 80, ainda se veicula a mesma imagem, mesmo que os antissemitismos tenham sido cortados. Ele afirma, então, que Mendelssohn faz uma música suave e que foi privilegiado desde a casa paterna".

"Ele também escreve que o mundo finalmente deveria reconhecer que a música de Mendelssohn é afrouxada mesmo. O guia foi publicado em 1984, e ainda pode ser encontrado em toda biblioteca especializada em música. É uma mentalidade que se perpetuou até hoje e turva a imagem de Mendelssohn", opina Voigt.

Johann Sebastian Bach
Johann Sebastian Bach (1685-1750)

A mostra na cidade natal de Bach revela como o cultivo de sua obra, iniciado 100 anos antes por Mendelssohn, passa a obter conotações racistas a partir de 1933. O culto nazista a Bach se fundamentava na árvore genealógica do compositor e na argumentação de que a polifonia bachiana remete à música dos germanos.

Em sua obra Musik und Rasse (Música e Raça), Richard Eichenauer teve a presunção de afirmar que "a fuga é loira e tem olhos azuis".

Em 1935, Eisenach sediou – ao lado de Leipzig – as comemorações dos 250 anos do nascimento de Bach. Uma foto mostra Adolf Hitler no camarote de honra da Gewandhaus de Leipzig (onde Mendelssohn fora mestre-de-capela), ouvindo a música de Bach emocionado, com a cabeça apoiada nas mãos.

Exclusão de Mendelssohn perpetuada até hoje

Deutschland Musik Felix Mendelssohn-Bartholdy Lied Sonntagsmorgen
Felix Mendelssohn, em gravura do início do século 20Foto: picture-alliance / maxppp

O mais tardar nesse momento, o visitante se pergunta por que a mostra foi realizada em Eisenach, num espaço relativamente pequeno. Jürgen Ernst, diretor da Casa Mendelssohn em Leipzig, se diz grato pela iniciativa de Eisenach. Seria difícil fazer uma exposição dessas em Leipzig, onde Bach é venerado como um santo.

Neste ano, por ocasião da reinstalação de um monumento a Mendelssohn retirado pelos nazistas em Leipzig, Jürgen Ernst pôde constatar que as reservas daquela época contra o compositor ainda se fazem sentir hoje: "A questão do leitmotiv, que aparece pela primeira vez em Sonho de uma noite de verão [de Mendelssohn], e continua sendo atribuído a Richard Wagner. Embora Mendelssohn tenha sido reabilitado na programação de concertos, ainda há indícios de que essa mentalidade se arraigou em toda aquela geração".

Autora: Sigrid Hoff
Revisão: Augusto Valente