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Alemanha em recessão

23 de abril de 2009

Principais institutos econômicos preveem queda de 22,6% nas exportações da Alemanha em 2009. Estabilizar setor bancário é condição essencial para superar a crise, que custará emprego de um milhão de pessoas no país.

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Governo deveria poder forçar bancos a aceitar ajuda estatal, dizem especialistasFoto: AP/dpa/DW

A Alemanha só deverá sair da recessão em meados de 2010, segundo o prognóstico divulgado nesta quinta-feira (23/04) pelos oito principais institutos econômicos da Alemanha, da Áustria e da Suíça. A previsão de 6% de retração da economia em 2009 é a pior na história do país, que também em 2010 deverá amargar um crescimento negativo de 0,5%.

Os principais afetados são a indústria e o setor de exportações. As exportações deverão sofrer ainda em 2009 uma queda de 22,6%, enquanto o investimento em máquinas e equipamentos industriais cairá 16%.

A pior queda na produção foi registrada no inverno europeu de 2008/2009. "O grande terremoto na produção já passou", avaliou Kai Carstensen, do instituto Ifo, de Munique. "Diante de nós estão agora suas consequências." A dinâmica negativa deve se amenizar, embora o estudo de 96 páginas preveja que a economia alemã só retorne ao nível pré-crise em 2013.

Consequências no mercado de trabalho

Segundo o prognóstico, a crise custará o emprego de um milhão de pessoas na Alemanha, com o total de desempregados do país atingindo a marca de 4,7 milhões até o final de 2010, o que corresponde a um índice de desemprego de 10,8%. A instabilidade do mercado de trabalho deverá provocar também uma queda no consumo.

O ministro alemão do Trabalho, Olaf Scholz, apelou às empresas que abram mão de demissões e utilizem o recurso do desemprego parcial, através do qual o Estado compensa as empresas ou os trabalhadores pelas horas de trabalho perdidas. Ele se mostrou confiante de que também em 2009 haverá mais de 600 mil novas vagas para programas de formação profissional e sublinhou que 30 empresas cotadas na Bolsa de Valores alemã já confirmaram que não vão reduzir tais programas.

O presidente da Confederação Alemã de Sindicatos (DGB), Michael Sommer, alerta que a diferença desta crise em relação às anteriores é que ela não afeta apenas setores marginais da sociedade, mas também setores clássicos, como os trabalhadores e a classe média.

Scholz, entretanto, descartou a possibilidade de que protestos em massa como os que vêm acontecendo na França ocorram também na Alemanha, alegando que o país possui um estado de bem-estar social que funciona, com proteções contra a demissão arbitrária, estatutos de funcionários e possibilidades de codeterminação empresarial.

Estabilizar setor bancário é essencial

Os institutos deixaram claro que a condição indispensável para uma melhoria substancial da economia é a superação da crise bancária internacional, que eles não consideram completamente solucionada apenas com os planos de resgate anunciados pelos governos. A falta de uma solução para a crise poderia levar a uma "espiral deflacionária global".

"A estabilidade do setor bancário é um bem público, que o Estado deve garantir a qualquer custo", disse Carstensen, do Ifo, que recomenda ao governo prosseguir com a recapitalização dos bancos, se necessário até mesmo forçando-os a aceitar ajuda financeira estatal, tal qual prevê o modelo britânico. No entanto, Carstensen alerta que o contribuinte não deve responder pela maior parte dos riscos na compra pelo governo de títulos podres dos bancos.

Se ainda assim não for possível estabilizar o sistema de bancos e créditos na Europa, os institutos recomendam que sejam criados incentivos financeiros adicionais, por exemplo a redução de impostos. No entanto, estes devem ser coordenados em nível europeu e levar sempre em conta as dificuldades de consolidação orçamentária.

Especialistas alertam, por exemplo, para o perigo embutido na diminuição dos encargos fiscais de empresas, o que elevaria o endividamento estatal e poderia ocasionar um aumento dos impostos a médio prazo.

Os institutos tampouco aconselham a elaboração de um terceiro pacote de apoio à conjuntura, alertando que em 2009 a Alemanha deverá registrar um déficit orçamentário de 89 bilhões de euros (3,7%). Para 2010, a previsão é de que faltem 133 bilhões de euros nos caixas públicos (5,5%).

Os economistas também recomendam ao Banco Central Europeu (BCE) que reduza a taxa básica de juros de 1,25% para 0,5%, "diante da profunda queda da conjuntura e da baixa inflação na zona do euro". Até mesmo uma taxa nula seria recomendável, na opinião dos principais institutos.

RR/ap/reuters

Revisão: Alexandre Schossler