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Krautrock

10 de março de 2009

Bandas como Kraftwerk, Tangerine Dream, Triumvirat e Can são os maiores ícones do chamado Krautrock, que estabeleceu definitivamente o bit eletrônico na música pop no final dos anos 1960.

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Foto: universal

Na década de 1960, quando a música e as artes em geral se lançavam com ímpeto inédito contra os ditames da política internacional, ameaçando o status quo das trincheiras dos meios de comunicação de massa (e dos seus subterrâneos), surgiam na Alemanha os primeiros indícios de que o país ainda era capaz de influenciar a música que os jovens ouviam no mundo.

Aproveitando a forte tradição no campo científico e herdando o inconformismo estético de compositores como Karlheinz Stockhausen (1928/2007), bandas de diversas partes da Alemanha entraram em cena, instigadas pela efervescência da contracultura. A maioria delas experimentando com elementos do rock progressivo, gênero onde o sintetizador – e não mais a guitarra elétrica –, formatava a sonoridade. Assim foi gerada uma curiosa vertente, que acabou batizada como Krautrock.

Amon Düül Konzert in den 70ern
Show de Amon Düül na década de 1970Foto: picture-alliance/ jazzarchiv

Rótulo britânico

O termo Krautrock foi criado pelo DJ inglês John Peel, quando ele se deparou com o álbum Psychedelic Underground (1969), da banda Amon Düül, de Munique. A música era "Mama Düül und Ihre Sauerkrautband spielt auf" (Mamãe Düül e sua banda chucrute tocam).

Como kraut era também a forma como os alemães eram chamados pelos ingleses na Segunda Guerra Mundial, o termo acabou pegando. E os próprios alemães o acolheram, embora como sinal depreciativo. Definitivamente, não era nada fácil fazer música num país que ainda ansiava por uma nova identidade, depois da aberração do nazismo que imperou de 1933 a 1945.

As bandas britânicas Pink Floyd, Yes, Genesis e Gentle Giant, entre outras, eram as maiores referências daqueles jovens que viviam no epicentro da Guerra Fria. A Alemanha estava infestada de mísseis nucleares russos e norte-americanos; Berlim era uma cidade dividida; e os horizontes daquela geração só mudariam de cor se houvesse mesmo muita mobilização da cidadania.

Foi o que houve: o país vivenciou de perto todo o idealismo emblemático de Maio de 68 e a democracia prosperou a largos passos, com as artes dando substancial contribuição a isso.

Woodstock alemão

O evento Internationale Essener Songtage, produzido e idealizado em 1968 pelo jornalista Rolf-Ulrich Kaiser na cidade de Essen, foi fundamental para que os grupos de rock alemães ganhassem autoconfiança e passassem a ser reconhecidos em escala continental. O bem-sucedido festival, que foi considerado posteriormente como Woodstock alemão, abriu espaço pela primeira vez para bandas da Alemanha tocarem diante de um grande público, com cerca de 40 mil espectadores.

Guru-Guru (de Heidelberg), Tangerine Dream (Berlim), Xhol Caravan (Wiesbaden) e Amon Düüll subiram ao palco, ao lado de atrações internacionais como Frank Zappa e seu grupo The Mothers of Invention, The Fugs, Family e Julie Driscoll.

Band Tangerine Dream
Tangerine Dream em Berlim em 2006Foto: picture-alliance/dpa

Em seu livro Das Buch der Neuen Pop Musik (O Livro da Nova Música Pop), publicado em 1969 pela Econ Verlag, de Düsseldorf – a mesma cidade de onde saiu o Kraftwerk –, Rolf-Ulrich afirmou que o evento "foi a primeira grande documentação apresentada na Europa sobre os diferentes gêneros musicais da atualidade e da cultura underground". A imprensa da época entendeu de outra forma, e até a revista Der Spiegel disparou sua crítica contra a suposta "festa delirante da pornografia", como ressalta Rolf-Ulrich em seu livro.

O norte-americano Zappa, um dos papas do rock experimental, já declarava seu interesse pela então emergente música eletrônica, que mais tarde iria desaguar na música do Kraftwerk e na Love Parade, de Berlim. Mas o músico também tinha críticas: "É necessário saber produzir música eletrônica e saber entender a sua tecnologia. Mas infelizmente são poucos os estúdios dedicados a ela e raros os de boa qualidade", afirmou o líder do vanguardista The Mothers of Invention ao jornalista e produtor alemão.

Em 1971, o próprio Rolf-Ulrich Kaiser iria fundar os selos fonográficos Ohr Musikproduktion e Pilz, que desempenhariam importante papel na divulgação do Krautrock. "Enquanto o Ohrmusikproduktion se especializou em sons da esfera psicodélica, experimental e eletrônica, o Pilz ficou com o folkrock. Em apenas três anos, eles lançaram cerca de 50 LPs", afirmou Uwe Husslein em seu artigo publicado no livro Summer of LovePsychedelische Kunst der 60er Jahre (Verão do Amor – Arte Psicodélica dos Anos 60), da editora alemã Katje Cantz.

O Krautrock no Brasil

O rock cósmico produzido pelas bandas kraut arrebanhou muitos fãs também no Brasil. Dentre os grupos alemães preferidos dos jovens brasileiros já figuravam o Kraftwerk – mito máximo gerado no Krautrock – e o Triumvirat, este sendo considerado uma espécie de Emerson, Lake and Palmer alemão.

Kraftwerk Man Machine
Capa do álbum 'Man Machine', lançado pelo Kraftwerk em 1978Foto: EMI Music Germany

O Triumvirat chegou a emplacar vendagem representativa de seu terceiro LP, o Spartacus, de 1975, que trazia uma capa que fez história na cena pop, com um ratinho branco, que era a "marca" do grupo, dentro de uma lâmpada.

Os brasileiros amantes do rock progressivo e do Krautrock alemão tinham seu próprio nicho na mídia durante a década de 1970. A rádio carioca Eldo Pop (Eldorado) apresentava regularmente em seu repertório faixas do Triumvirat, do Tangerine Dream e, claro, do Kraftwerk.

Até mesmo o grupo Nektar, criado em Hamburgo, mas por músicos ingleses, era considerado uma banda alemã. Na maior emissora do país, havia o programa vespertino Sábado Som, produzido por um mestre do jornalismo musical, Nélson Motta.

Nos maiores periódicos brasileiros, jornalistas como Ana Maria Bahiana, Tárik de Souza e Ezequiel Neves informavam com conhecimento de causa e sem preconceitos sobre o mundo do rock que explodia mundo afora, enquanto bandas nacionais como O Terço, Som Imaginário, Mutantes (fase pós-Rita Lee), Bacamarte e O Som Nosso de Cada Dia faziam suas artes nos cultuados teclados Moog.

Autor: Felipe Tadeu

Revisão: Simone Lopes