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Integração

Marcio Pessôa28 de janeiro de 2009

Estudo divulgado nesta semana exclui avaliação da integração de latino-americanos na Alemanha. Opiniões de brasileiros são diversas quanto ao seu nível de adaptação à sociedade alemã.

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Foto: picture-alliance / dpa/Grafik/DW

Na Alemanha vivem 15,3 milhões de cidadãos com histórico de migração. Um estudo divulgado pelo Instituto Berlim de População e Desenvolvimento nesta semana traz informações sobre o processo de integração de pessoas de diversas nacionalidades, mas não analisa a comunidade brasileira no país.

Urbano Carvelli
Carvelli: 'integração é mais fácil para o brasileiro'Foto: Urbano Carvelli

Urbano Carvelli, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Colônia e diretor do grupo de trabalho da União Democrata Cristã (CDU) sobre Integração na cidade de Bonn, supõe que os latino-americanos ficaram fora da pesquisa por se tratar de um grupo pequeno em relação a outras comunidades. "A questão é que brasileiros e argentinos, em muitos casos, têm dupla cidadania e acabam não aparecendo como estrangeiros", explica o paulistano de 37 anos.

Ele acredita que a integração seria mais fácil para o brasileiro, que já vem de um país de imigração. "Todos os brasileiros, brancos ou negros, são imigrantes no seu território. É normal existirem cidadãos afro, ítalo, espano ou franco-brasileiros. Os índios são os brasileiros nativos", argumenta Carvelli.

Facilidades de adaptação

Os chamados "rótulos positivos" do brasileiro no exterior também valeriam para facilitar a integração. É o que defende a cientista política Helza Lanz, 49, moradora de Euskirchen, nas proximidades de Colônia, no oeste da Alemanha. Ela acredita que, por saírem de um país multiétnico, os brasileiros, em geral, sabem lidar com diferenças culturais.

Lanz diz que nunca se sentiu deslocada dos acontecimentos locais e que tem muitos amigos alemães. "Há um certo jogo de cintura, flexibilidade e maneira carinhosa de conversar que facilita a nossa integração em outros países", conclui. Para ela, a origem religiosa similar (católica) facilita sua vida na Alemanha.

Apesar da percepção positiva, Helza Lanz também reconhece que passa por fatos embaraçosos no cotidiano e o que antes tomava como provocação pessoal aprendeu a ignorar. "Às vezes, no dia-a-dia, é difícil lidar com a caixa do supermercado ou com o homem do correio. Eles têm mais dificuldade de entender o estrangeiro. Mas isso é uma experiência pessoal", sublinha a baiana, casada com um consultor alemão.

Helza Lanz tem dupla cidadania, mas acredita que nem sempre isso é um fator que favorece a integração. Ela diz que o passaporte alemão propicia um tratamento mais amistoso em repartições públicas, por exemplo. Por outro lado, há circunstâncias delicadas. "Você não sai por aí dizendo que é alemã toda hora. Logicamente, meu tipo físico revela que sou estrangeira", enfatiza.

"É necessário ser duas vezes melhor"

Ela viajou para a Alemanha na década de 1980 para cursar mestrado na Universidade de Frankfurt. Segundo a baiana, para um estudante, a adaptação seria mais fácil porque a universidade oferece uma espécie de "redoma" de proteção para estrangeiros.

Já no cotidiano profissional, por melhor que seja a formação do brasileiro, Lanz acredita que sempre há obstáculos. "É necessário ser duas vezes melhor para ser reconhecido pela metade", ironiza a professora da Universidade de Friburgo, na Suíça.

WM Fußball Fan Party in Berlin Flagge Brasilien Deutschland
Foto: picture-alliance/ dpa

Conforme o estudo do instituto berlinense, 94% das pessoas com histórico de migração vivem na parte oeste da Alemanha e em Berlim. Apenas 6% residem na ex-República Democrática Alemã (RDA). Uma das cidades de maior população na antiga Alemanha Oriental é Leipzig, com mais de meio milhão de habitantes e a 150 quilômetros Berlim. Lá vive Luiza Cláudia Vasconcelos, de 36 anos.

Morando há sete anos em Leipzig, a paulistana trabalha como mãe-crecheira (Tagesmutter), profissão reconhecida pelo Estado, na qual a pessoa é paga para cuidar de crianças. Suas duas filhas nasceram na Alemanha e ela confessa ter dificuldades de integração desde a primeira semana no país, quando os amigos do seu ex-marido prepararam uma festa surpresa para recebê-la. O que aparentemente seria uma atitude simpática, para ela, foi constrangedor. "Eu queria ser um mosquito para sair voando dali", lembra em tom de brincadeira.

"Se Deus quiser, eu vou para Berlim"

Luiza diz que negava todos os convites para atividades com alemães por medo de se ver em situações embaraçosas. "Por isso, procurei brasileiros", revela. O tempo passou e, com as sugestões do ex-marido, viu que não teria outra opção. Pensando no seu bem-estar, resolveu fazer cursos de alemão. "Antes, eu ficava com raiva de mim por não falar o idioma, agora fico com raiva por entender alguns absurdos que ouço por aqui", revolta-se.

Com as experiências negativas em Leipzig, a paulistana pretende mudar-se para Berlim. "Talvez eu me sinta melhor lá porque venho de uma cidade grande [São Paulo]", deseja.

Porém, mal sabe Luiza que a pesquisa desbancou Berlim como o bastião da migração na Alemanha. Munique, Frankfurt, Bonn e Düsseldorf teriam desenvolvido, segundo o estudo, o melhor trabalho de integração de imigrantes.