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Debate

DW/Agências (ca)10 de janeiro de 2009

Programas do horário nobre da televisão pública francesa podem agora ser vistos sem interrupção por comerciais. A proibição da propaganda, introduzida por Sarkozy, é tentativa de controlar a mídia, dizem críticos.

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Sarkozy quer elevar qualidade da TV pública francesa, mas críticos temem o contrárioFoto: AP

Nesta semana, pouco antes de o noticiário do canal público de televisão France 2 começar, um jingle entrou no ar lembrando os telespectadores que, a partir daquele momento, a programação noturna do horário nobre começaria 15 minutos mais cedo devido à proibição da propaganda.

Desde 5 de janeiro último, não existem mais comerciais na televisão pública francesa a partir das 20h. Até 2011, eles deverão desaparecer por inteiro.

A proposta do presidente Nicolas Sarkozy, de retirar os comerciais como forma de restaurar a qualidade da televisão pública do país, foi aprovada pela Assembléia Nacional no final do ano passado. O presidente da France Télévisions, companhia francesa de radiodifusão estatal, passou também a ser escolhido por Sarkozy. Anteriormente, era nomeado por um grêmio independente.

Novas taxas compensarão perdas com publicidade

Fernsehen Fünfziger Jahre
Opositores acusam Sarkozy de volta ao passadoFoto: picture-alliance/dpa

"Se mantivermos os comerciais televisivos, estaremos nos submetendo à tirania da medição de audiência. E isso sempre significa a pior programação reduzida para os níveis intelectuais mais baixos", afirmou Sarkozy ao anunciar suas reformas no começo do ano passado. "Para canais privados, tubo bem, mas a televisão pública deve ser diferente. Ela deve elevar o nível das pessoas e despertar sua curiosidade, consciência e inteligência".

O fim dos comerciais será compensado por duas novas taxas: uma contribuição de 0,9% sobre a receita de empresas de internet e operadoras de telefonia e uma taxa sobre o rendimento com propaganda em canais de TV privados que varia de 1,5% a 3%.

"Televisão estatal como na Europa Oriental"

No entanto, os opositores da proposta de Sarkozy reclamam que, atrás da proibição de comerciais, está o desejo camuflado de promover o canal privado TF1. Martin Bouygues, um velho amigo de Sarkozy, é o proprietário do canal mais assistido da França. Tais críticos são da opinião que a TF1 ganhará a maior parte das verbas publicitárias perdidas pelas redes públicas da França.

Em entrevista à Deutsche Welle, Jean-François Tealdi, representante sindicalista da France Télévisions, disse que as reformas de Sarkozy irão empobrecer a radiodifusão pública e comprometer sua independência.

"Isso é um retorno aos anos de 1960, quando os líderes políticos escolhiam os diretores de canais de televisão. Na época, as emissoras públicas não prestavam ao público serviços com a mesma qualidade que prestam hoje", disse. "Tratava-se basicamente de televisão estatal como na Europa Oriental. E é para onde o Sr. Sarkozy está nos levando de volta", afirmou Tealdi.

Assistindo à "France Sarkovision"

Na semana passada, os funcionários da televisão pública francesa pararam de trabalhar para protestar contra as mudanças. Diversos noticiários vespertinos tiveram de ser cancelados.

Defendendo suas reformas, Sarkozy argumentou que a retirada da propaganda comercial seria um grande passo com vista ao seu objetivo de modelar a televisão pública francesa segundo a rede de radiodifusão pública britânica BBC.

Mas o jornal de tendência esquerdista Libération afirmou que a reforma do presidente francês seria um pretexto para transformar a France Télévisions em "France Sarkovisions".