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História

1948: Fundação do Partido Liberal Democrata da Alemanha

Gerda Gericke (am)

Fundado no dia 12 de dezembro de 1948, o FDP (Partido Liberal Democrata) tornou-se uma significativa força política na Alemanha do pós-Guerra, quase sempre no poder graças a uma estratégia sagaz de coligações políticas.

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FDP-Fahnen
Foto: picture alliance/ZB

Terminada a Segunda Guerra Mundial, a metade da Europa estava em ruínas. A Alemanha havia iniciado a guerra e, seis anos e milhões de vítimas depois, em maio de 1945, capitulara incondicionalmente. A partir daí, as potências aliadas vitoriosas ocuparam a Alemanha e passaram a determinar toda a vida do país.

Só pouco a pouco é que a nação alemã começou a ressurgir das ruínas e a reassumir a administração e o governo próprios. Com a reforma monetária de junho de 1948, o país passou a ter uma nova moeda e, cerca de um ano depois, foi aprovada a Lei Fundamental, a nova Constituição da Alemanha.

Entre esses dois acontecimentos, no dia 12 de dezembro de 1948, foi fundado o Partido Liberal Democrata (FDP – Freie Demokratische Partei). Com este intuito, 89 delegados provenientes das três zonas ocidentais de ocupação haviam se reunido na cidade de Heppenheim, no sudoeste do país, que já fora palco de um encontro histórico de liberais durante a Revolução de 1848.

Duas alas

Ali juntaram-se duas diferentes tendências. A ala liberal-filosófica seguia a linha de Friedrich Naumann e era liderada por Theodor Heuss, um dos discípulos de Naumann, que se tornou o primeiro presidente do FDP e, posteriormente, presidente da Alemanha. A ala liberal-nacionalista seguia a linha de Gustav Stresemann. Ambos os grupos eram formados na sua maior parte por políticos remanescentes da República de Weimar, eliminada pelos nazistas em 1933.

Wolfgang Mischnick, na época integrante da organização juvenil liberal Jungdemokraten, posteriormente Ministro para os Refugiados e líder da bancada liberal no Parlamento alemão, relembra o congresso de fundação do partido, onde sentiu muito frio por falta de carvão para a calefação, naquele dia 12 de dezembro de 1948:

"Nós tínhamos ali, praticamente, dois partidos liberais. De um lado, estava o Partido Democrático e, do outro, o Partido Popular Alemão. Um era mais da linha nacional-liberal; o outro, social-liberal. Desses dois grupos, surgiu o FDP, ao qual se juntou uma grande quantidade de adeptos que antes não pertenciam a nenhum partido."

Pela liberdade individual

Em Heppenheim, no dia da fundação, discutiu-se intensamente se a palavra "liberal" deveria ou não constar do nome do partido. Os delegados do sul da Alemanha – de Württemberg, de Baden e da Baviera – eram terminantemente contrários à denominação, argumentando que não era bem vista pela Igreja e pela gente simples do interior.

O nome Freie Demokratische Partei (tradução literal: Partido Democrático Livre) foi então aprovado por um total de 64 votos, contra 25 votos a favor de Liberal Demokratische Partei. Wolfgang Mischnick: "Mas nós logramos a criação de um único partido liberal na República Federal da Alemanha, enquanto nos demais países democráticos vizinhos, ao norte, oeste e sul, existiam, em geral, vários partidos".

No pós-guerra, o liberalismo exercia grande fascinação sobre as pessoas, como alternativa ao fascismo e ao comunismo. Lemas da turba nazista, do tipo "você não é nada, o seu povo é tudo", eram repugnados pela população. Contraposta a isto, estava a nobre luta pela liberdade individual, pelos direitos humanos e pela tolerância.

Contudo, o novo partido adotou a linha nacional-conservadora e tornou-se, sob observação das potências de ocupação, a agremiação política que integrava antigos funcionários nazistas e ex-combatentes. Não pode haver duas classes de cidadãos, afirmava-se, e por isso era preciso abrir um caminho à democracia para milhões de adeptos arrependidos do nazismo. O FDP foi o primeiro partido a defender o fim dos processos de "desnazificação" do país.

Pela economia de mercado livre

Theodor Heuss descreveu a linha do partido num comício para as primeiras eleições parlamentares, em 1949: "De nossa parte, não acreditamos que a chamada economia planificada, organizada ou dirigida possa dar conta da pluralidade da divisão de trabalho e da complexidade das questões alemãs. As experiências vividas no Leste do país assustam. O produto social só cresce onde existe o livre desenvolvimento da habilidade e da experiência, sob responsabilidade própria de cada empresário. E seu crescimento é uma condição prévia para que fracos, velhos, doentes, vítimas da guerra e desempregados possam ser amparados".

A argumentação soava nobre e benevolente, mas não foi suficiente para obter um grande êxito eleitoral. Nas décadas seguintes, o FDP sempre andou "na corda bamba". Nas eleições regionais, fracassou frequentemente aqui e acolá, não alcançando o mínimo necessário de 5% dos votos para obter mandatos parlamentares. O primeiro chanceler federal alemão, Konrad Adenauer, acreditava ter a explicação para tal fato: "Não necessitamos de um partido liberal como tal, pois todos os partidos tornaram-se liberais".

Quase sempre no poder

Adenauer enganou-se. Os dois grandes partidos alemães, o social-democrata e o democrata-cristão, necessitaram muitas vezes do FDP como parceiro de coalizão. Contrapeso na balança política, ele sempre foi cortejado, ora por um, ora por outro, permanecendo no poder como parceiro mor da maioria das coalizões governamentais. Esse foi o papel assumido pelo FDP na Alemanha do pós-guerra.

Os liberais nunca permaneceram muito tempo na situação de oposicionistas. Com um número relativamente pequeno de votos nos pleitos nacionais, eles sempre conseguiram manter um nível elevado e desproporcional de poder e influência.

Com frequência, estão diante do dilema de optar pelos democrata-cristãos ou pelos social-democratas. E cada vez que os liberais mudaram de parceria seus líderes são acusados de oportunismo. 

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