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Os 80 e a Nova Onda Alemã

Tampouco a Alemanha escapou do fenômeno punk. Mas o estilo logo daria espaço ao New Wave e à Neue Deutsche Welle, período no qual artistas alemães se tornaram famosos até no exterior cantando em seu próprio idioma.

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Foto: dapd

Também na Alemanha, a trilha sonora da virada da década 70 para a 80 não seria a mesma sem o punk. Muito mais que apenas um gênero musical, era um verdadeiro estilo de vida, que previa uma postura crítica – nem sempre construtiva, mas necessariamente rebelde – perante a sociedade.

Die Düsseldorfer Punk-Band Die Toten Hosenpg
Die Toten HosenFoto: dpa

No começo dos anos 1980, se formava em Düsseldorf a banda Die Toten Hosen ("Vor dem Sturm", "Alkohol"). Reza a lenda que seus cinco integrantes nem sabiam tocar e escolheram por sorteio quem assumiria que instrumento. O sucesso nem por isso deixou de vir. Com faixas simples e curtas, porém engajadas, não demorou até que conquistassem primeiro a esquerda alternativa e depois o grande público. Entre 1982 e 1997, a banda fez mil apresentações ao vivo e ainda hoje reúne um grande número de fãs.

Também o Die Ärtzte tornou-se popular ao salientar antes os aspectos satíricos que os destrutivos do punk. Para contornar a indiciação de algumas de suas letras, por exemplo, a banda chegou a tocar em shows versões instrumentais de certas faixas, deixando que o próprio público as cantasse. Na década de 90, a banda voltou à ativa e existe até hoje, embora alguns de seus integrantes, como o vocalista Farin Urlaub, tenham obtido grande sucesso também em carreira solo.

Outra estrela do punk alemão foi Nina Hagen. Ainda em meados do anos 70, a jovem percorreu a antiga RDA cantando seu primeiro sucesso "Du hast den Farbfilm vergessen". Logo após sua mudança para a Alemanha Ocidental, aproveitando a expatriação de seu pai de criação, Wolf Biermann, por incompatibilidade ideológica com o regime, teve início a carreira desta que se tornou internacionalmente uma das mais famosas celebridades da música pop alemã.

Rock-Ikone Nina Hagen
Nina HagenFoto: picture-alliance/dpa

Mais tarde, Nina conquistou um público alternativo com os sucessos "TV Glotzer" (1978) e "Unbehagen" (1979) – por mais que continuasse praticamente ignorada pela mídia geral, mais interessada em suas escapadas esotéricas e em suas campanhas pelos direitos dos animais.

Ao longo dos anos 80, a cantora se estabeleceu e, em 1985, fez um dos maiores shows de sua carreira na primeira edição do Rock In Rio. Hoje, no entanto, o público alemão lembra dela mais por sua participação em programas de televisão que por suas recentes gravações.

Dias de New Wave

Mas tudo passa e com o punk não foi diferente. Aos poucos, sua energia foi se esgotando e sua revitalização, tanto musical quanto estilística, encontrou resposta no New Wave, quando penteados ousados, cores vibrantes, muita maquiagem e visual andrógino voltaram à ordem do dia.

Pouco a pouco, o universo pop passou a ser fortemente marcado pela influência da música eletrônica, fato que acabou se tornando um dos grandes marcos da década. Usando e abusando de teclados e sintetizadores analógicos, artistas que muito apostavam no próprio estilo levaram à proliferação de um pop eletrônico melodioso que se estabeleceu como synthpop (ou electropop) e que encontrou na Alemanha solo fértil para prosperar. Certas bandas da época, como Depeche Mode, por exemplo, desfrutam até hoje de enorme popularidade.

O grupo alemão Alphaville invadiu paradas internacionais com hits como “Big In Japan” e “Forever Young”, ao mesmo tempo em que o trio Camouflage conquistou o público de diversos países com “The Great Commandment” e permaneceu seis longos meses na parada alemã com a melodiosa “Love Is A Shield”.

Falco
FalcoFoto: Rainer Hosch

O austríaco Falco também conquistou uma legião internacional de fãs com inúmeros hits, entre os quais “Der Kommissar” e “Rock Me, Amadeus”, permanecendo uma celebridade até sua morte num acidente de carro na República Dominicana em 1998. Altamente extravagante, Falco cantava em alemão e apostava na força rítmica do idioma, sendo considerado por alguns um precursor do hiphop em alemão.

A Nova Onda Alemã

A redescoberta do alemão na música pop foi levada adiante por artistas que acabaram sendo reunidos pela crítica sob o rótulo da Neue Deutsche Welle (NDW). Antes deles, pop em alemão era praticamente tabu, sendo que os artistas corriam risco de ser rebaixados ao baixo escalão do Schlager e da Volksmusik.

DAF/DOS Deutsch amerikanische Freundschaft Musik Gabi delgado und Robert Gröl
DAF

Com a NDW, o pop em alemão proliferou por toda a parte, fazendo sucesso inclusive nos Estados Unidos. A princípio, tratava-se de um fenômeno underground, representado por bandas como o duo DAF (Deutsch-Amerikanische Freundschaft), que surpreendeu o país em 1981 com o polêmico hit “Der Mussolini” e mais tarde serviria de influência à EBM (Electronic Body Music).  

Nena -Der Star der neuen deutschen Welle – 1984
Nena, a cara da Neue Deutsche WelleFoto: Haus der Geschichte/Bonn

Com o passar do tempo, o fenômeno acabou sendo descoberto pela mídia e por grandes gravadoras, que investiram em bandas comercializáveis sob este rótulo. Uma das canções que mais contribuíram para o estouro da NDW foi "99 Luftballons” (1983), da cantora Nena, que permaneceu 23 semanas no topo da parada alemã e emplacou ainda em outros países europeus.

Nena, que seguiu emplacando hits como “Leuchtturm” e “Irgendwie, irgendwo, irgendwann”, é considerada ainda hoje a cara da Neue Deutsche Welle. Mas o movimento contou com inúmeros outros sucessos, entre eles “Da Da Da” (1982), da banda Trio;  “Major Tom (völlig losgelöst)“, de Peter Schilling (1983), e “Blaue Augen” (1982), da banda berlinense Ideal.

Aos poucos, se diluíram os critérios para definir quem pertencia ou não àquele que havia se tornado um dos movimentos culturais mais bem-sucedidos da música pop alemã do pós-guerra. Praticamente todos que cantassem em alemão eram de um modo ou de outro identificados com a NDW.

Um dos que muito ganharam com isso foi Herbert Grönemeyer. Após um primeiro sucesso como ator no filme O Barco – Inferno no Mar, de Wolfgang Petersen – divertimento politicamente engajado, que também descreve perfeitamente sua trajetória musical –, Grönemeyer recebeu 25 discos de platina como cantor na Alemanha, na Áustria e na Suíça.

Deutschland Musik Herbert Grönemeyer
Herbert GrönemeyerFoto: AP

Ele consta entre os mais versáteis músicos alemães e, após 30 anos de carreira, é considerado uma espécie de ícone nacional, com mais de 10 milhões de cópias vendidas de 12 álbuns lançados e milhões de ingressos vendidos para shows que invariavelmente lotam estádios.

Mas os anos 80 abriram também espaço para excentricidades estilísticas acompanhadas de pouca qualidade musical. Só assim se pode explicar o sucesso do duo Modern Talking, encabeçado por Dieter Bohlen, hoje produtor e idealizador do programa televisivo que corresponde na Alemanha ao americano American Idol. A partir de 1984, quando estouraram com "You're My Heart, You're My Soul", desfrutaram de um sucesso inquestionável até sua separação repentina em 1987. Sua popularidade, no entanto, permitiu que os dois retornassem para uma breve reunião nos anos 90.

Scorpions
ScorpionsFoto: Ralf Strathmann

Para fechar a década com chave de ouro, a banda Scorpions (“Still Loving You”, "Rock You Like A Hurricane"), fundada em 1965 em Hannover, emplacou mais um hit internacional com "Wind Of Change", música que é considerada o hino da reunificação do país, momento histórico que abriu o caminho para uma experiência musical completamente nova nos anos 90.