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HistóriaItália

1786: Goethe chegava a Roma, cidade de seus sonhos

Catrin MöderlerPublicado 29 de outubro de 2014Última atualização 29 de outubro de 2020

No dia 29 de outubro de 1786, Johann Wolfgang von Goethe chegou a Roma, incógnito, usando um nome falso. Ele tinha 37 anos de idade, e passou 20 meses na capital romana, buscando inspiração através da pintura.

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Pintura mostra Goethe sentado em um divã
pintura "Goethe na campanha", de Johann Heinrich Tischbein (1787)Foto: picture-alliance/akg-images

"De madrugada, às três horas, saí furtivamente de Karlsbad, pois do contrário não me teriam deixado ir. O grupo festejou o 28 de agosto, meu aniversário, de forma tão amigável, que conquistou com isso um direito de me prender; mas não tinha tempo a perder. Subi sozinho numa diligência postal, levando somente capote e bornal, e cheguei às sete e meia em Zwota. […]"

Um homem rompia com a sua rotina: Johann Wolfgang von Goethe, 37 anos, conselheiro de Estado e ministro do duque de Saxônia-Weimar – estadista, naturalista e o maior poeta que a Alemanha teria em todos os tempos.

Mas o trabalho como estadista bloqueava a sua criatividade. Goethe necessitava de liberdade. Em setembro de 1786, ele desapareceu, sem fazer qualquer comunicado prévio, de uma estação de águas em Karlsbad. No dia 29 de outubro de 1786, Goethe chegou ao seu destino secreto, a cidade dos sonhos da sua infância: Roma.

Nome falso

Temendo ser retido, Goethe viajara sob nome falso. "Johann Philipp Möller, pintor artístico da Alemanha" foi como ele se registrou em uma pensão romana na Via del Corso. Nos 20 meses seguintes, ele se tornou companheiro de um outro morador da pensão, o pintor Johann Wilhelm Tischbein.

Os dois já mantinham correspondência durante muitos anos, mas só então é que se encontraram pela primeira vez. Mais tarde, Tischbein pintaria um famoso retrato do seu companheiro de pensão: com um grande chapéu, um manto de seda branca, desenhando a paisagem italiana.

O desenho era a principal ocupação de Goethe em Roma: "Que eu desenhe e estude a arte, ajuda a capacidade de escrever, em vez de impedi-la; pois só é preciso escrever pouco, mas desenhar muito. […] A razão e a perseverança dos grandes mestres é incrível. Se me senti como recém-nascido na minha chegada à Itália, agora estou começando a sentir-me como recém-educado. […]"

Criatividade retorna

Goethe herdara do pai o entusiasmo por Roma. Os suvenires e as narrações entusiásticas do pai sobre uma viagem pela Itália acompanharam Goethe durante toda a sua infância. Ao chegar, finalmente, à Cidade Eterna, o que mais lhe interessou foram os vestígios da Antiguidade clássica, que louvaria depois nas suas Elegias Romanas.

Em Roma, a criatividade de Goethe retornou. Ele publicaria posteriormente o diário da sua estada na Itália, sob o título Viagem Italiana. Através das suas experiências, ele enriqueceu a literatura com uma nova época. O drama Ifigênia na Táurida, concluído em Roma, marcou o começo da era dos clássicos.

Mas acabou chegando a hora do retorno de Goethe ao cinzento norte da Alemanha. Ele deixou Roma no dia 24 de abril de 1788 e jamais retornaria à Cidade Eterna.

Na sua Viagem Italiana, Goethe anotou a despedida com palavras inspiradas em Ovídio, o poeta da Antiguidade: "Cada noite, passeia-me diante da alma a imagem triste, a última para mim na cidade romana; relembrando a noite de onde me ficaram coisas tão caras, escorre-me dos olhos ainda agora uma lágrima. […]"

De volta a Weimar, Goethe casou-se com Christiane Vulpius. Seu filho August morreu jovem e foi enterrado em Roma, por determinação do pai: a última homenagem de Johann Wolfgang von Goethe à cidade dos seus sonhos.