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Os anjos de Dresden

11 de dezembro de 2010

Enquanto os anjos da "Madona Sistina" de Rafael estampam cartões de Natal e papéis de presente no mundo todo, Dresden aproveita a posse da obra para atrair visitantes.

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Os anjos ao pé da MadonaFoto: AP

Conforme se aproxima o Natal, dois dos mais famosos anjos da história da arte ressurgem, estampados em cartões de Natal e papéis de presente do mundo todo, com suas bochechas avermelhadas, seus cachos castanhos e os grandes olhos voltados para o céu. Um dos motivos mais copiados e queridos, os anjos são sinônimo de arte e kitsch, ao mesmo tempo.

Mas poucos sabem que, na verdade, os pequenos querubins são parte de uma das pinturas mais famosas do mundo. "A maioria nem imagina que os anjos podem ser vistos em Dresden", conta Andreas Henning, curador responsável por pintura italiana no museu Gemäldegalerie Alte Meister, onde eles se encontram, aos pés da Madona Sistina de Rafael.

De última hora

Raffaels Engel
Os anjos mais famosos da história da arteFoto: AP

Pintada em torno de 1512 e 1513, a obra chegou à cidade às margens do Elba em 1754, vinda da Igreja de San Sisto em Piacenza. Segundo Henning, trata-se de uma imagem natalina, que "representa a encarnação de Cristo, com a Madona trazendo o Menino Jesus à Terra". Rafael teria utilizado a imagem das duas crianças de aparência infantil e terrena para reforçar a ideia.

No entanto, foi de última hora que elas acabaram sendo incluídas na composição. "Rafael pintou os dois anjos só no final, com pinceladas superficiais por sobre as nuvens", relata.

Cinquenta anos após a aquisição da obra pelo príncipe eleitor Augusto 3º da Saxônia, os copistas já faziam fila diante da Madona. "Os querubins foram desacoplados do resto da imagem pela primeira vez em 1803, ao serem inseridos cada um em uma obra do pintor August von der Embde", conta Henning. As duas telas faziam parte da decoração do castelo de Wilhelmshöhe, em Kassel. "Sem a Madona, os olhares dos anjos estão voltados diretamente para o céu."

O poder das cópias

Rapidamente, os anjos se tornaram um dos motivos preferidos no universo artístico e, com o progresso tecnológico, também da propaganda. Tudo começou com demoradas gravuras em cobre, madeira e aço, que mais tarde foram substituídas pela litografia e pela fotografia, até chegar nos dias de hoje, em que são escaneados e reproduzidos em segundos pelo computador.

Desde o século 19, a cidade de Dresden tira proveito da fascinação provocada pelos anjos para despertar o interesse de visitantes. "Não há melhor forma de propaganda, afinal a fachada da igreja Frauenkirche [outro marco turístico da cidade] pode ser confundida, mas os rostos dos anjos, não", diz Henning.

Muita gente se surpreende ao reconhecer os querubins justo na Madona Sistina de Rafael em Dresden. No entanto, nem a cidade nem alguma de suas instituições artísticas recebe um centavo pelos milhões de cópias dos anjos. "A arte é um bem de todos", argumenta Henning. "Se ganhássemos algo por cada anjo vendido, poderíamos financiar os custos de manutenção da obra." (rr)