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Morre Pavarotti

6 de setembro de 2007

O cantor lírico mais popular da segunda metade do século 20 ficou conhecido pela força na voz. A popularidade de Pavarotti foi reforçada com a dedicação em aproximar a ópera do grande público.

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Luciano Pavarotti num concerto em junho de 2004, no Chipre
Cai a cortina: Luciano Pavarotti, 71, morre em ModenaFoto: AP

O tenor italiano Luciano Pavarotti morreu aos 71 anos na madrugada desta quinta-feira (06/09) em sua casa em Modena. Segundo seu empresário, Terri Robson, a causa da morte foi câncer no pâncreas, doença contra a qual Pavarotti lutou por mais de um ano.

"Big Luciano", como era conhecido mundialmente, havia sido internado no dia 8 de agosto, com febre alta e uma infecção pulmonar. Ficou hospitalizado até 25 de agosto e se recuperava em casa, acompanhado pelos médicos.

Pavarotti havia sido operado de um tumor no pâncreas em julho de 2006. Desde então, não fez mais aparições públicas. O tenor será enterrado no próximo sábado na catedral de Modena, sua cidade natal. O prefeito Giorgio Pighi anunciou que o teatro municipal será rebatizado com o nome de Pavarotti.

Popularização da ópera

O volume da voz, o carisma e a personalidade expansiva de Luciano Pavarotti fizeram dele um dos mais famosos cantores de ópera do século 20. Sua imagem ultrapassou as fronteiras das salas de concerto e serviu para aproximar a ópera do grande público.

Em 1977, a apresentação Ao Vivo do Met (no Metropolitan Opera House de Nova York) se tornou o espetáculo de ópera de maior audiência da história da televisão. Em 1993, uma apresentação no Central Park nova-iorquino atraiu mais de meio milhão de pessoas.

Na última terça-feira (04/09), o ministro italiano da Cultura , Francesco Rutelli, disse que daria a Pavarotti o primeiro Prêmio Excelência na Cultura por causa da promoção da cultura italiana no exterior.

Die drei Tenöre - Großbild
Os Três Tenores: José Carreras, Luciano Pavarotti e Placido DomingoFoto: AP

Uma das iniciativas mais conhecidas de Pavarotti foi sua associação com os cantores líricos espanhóis José Carreras e Plácido Domingo. Na véspera da Copa do Mundo de futebol de 1990, o trio de tenores cantou nas antigas Termas de Caracalla, em Roma.

Interpretada por Pavarotti, a ária Nessun Dorma, da ópera Turandot de Puccini, tornou-se a trilha sonora da Copa. O concerto gravado vendeu mais de dez milhões de cópias, transformando Os Três Tenores no álbum de música clássica mais vendido de todos os tempos.

Música e futebol deveriam ser para todos

A partir de 1993, Pavarotti decidiu experimentar um estilo mais leve, com shows beneficentes e apresentações ao lado de astros do rock e do pop. Uma das participações mais conhecidas é na canção Miss Sarajevo, da banda irlandesa U2.

Pavarotti cantou ao lado do vocalista Bono e também do inglês Elton John.Criticado por puristas e fãs de ópera, Pavarotti rebatia: "Quero levar a música às pessoas e fazê-las felizes. Música, como o esporte, deveria ser para todo mundo."

Luciano Pavarotti é Nemorindo em L'Elisir d'Amore, de Donizetti
Luciano Pavarotti (Nemorino) e Daniela Mazzucato (Adina) na Deutsche Oper em BerlimFoto: dpa

Na adolescência, Pavarotti até chegou a alimentar esperanças de uma carreira no futebol. Mas o curso de Magistério, durante o qual conheceu a primeira mulher, o levou à escola primária. O tenor lecionou por 12 anos antes de iniciar a carreira de cantor lírico.

Luciano Pavarotti nasceu em Modena, norte da Itália, em 1935. Sua paixão pela ópera veio do pai, padeiro e tenor amador. A mãe trabalhava numa fábrica de charutos. Em 1961, Pavarotti venceu um concurso internacional e, naquele mesmo ano, estreou como Rodolfo em La Bohème, de Puccini.

"Rei do dó"

A carreira internacional de Pavarotti começou em 1963, quando iniciou na Holanda uma turnê por diversas cidades da Europa. Ele encarnou Edgardo, em Lucia di Lammermoor, de Donizetti. No mesmo ano, cantou pela primeira vez no Covent Garden, em Londres, substituindo Giuseppe di Stefano em La Bohème. Dois anos depois, Pavarotti se associou à companhia da soprano Joan Sutherland, com quem fez uma turnê australiana da Lucia.

Mas a glória internacional veio apenas em 1972, no Metropolitan Opera House, de Nova York. Durante a performance de La fille du régiment, de Donizetti, Pavarotti cantou nove dós de peito seguidos. Foi chamado ao palco pelo número recorde de 17 vezes. Em 1988, um novo recorde: ele foi tão ovacionado em Berlim, que a cortina fechou e abriu 115 vezes.

"Não há lugar para erros", disse certa vez, enquanto se referia à própria voz como um "presente de Deus". "Acho que existe algo inegavelmente excitante quando se vê um homem adulto cantando, de voz cheia, aqueles 'dós' agudos."

Vaias em Milão

No início dos anos 1990, a trajetória de Pavarotti começou a declinar. Ele chegou a ser vaiado durante uma apresentação de Don Carlos, de Verdi, no Scala de Milão. Em 2002, fãs haviam pago até quase 2 mil dólares para assistir à apresentação no Met, casa onde ele já havia cantado cerca de 400 vezes. Pavarotti chegou apenas poucos dias antes a Nova York e cancelou a apresentação alegando estar gripado.

Luciano Pavarotti
Pavarotti beija a noiva, Nicoletta MantovaniFoto: AP

Nessa época, a vida pessoal de Pavarotti também passou a ser explorada pelos jornais. Fosse pela sua barriga ou pelo fim de seu primeiro casamento, em 2000, ele era figura recorrente nas colunas de fofocas. Em 2003, Pavarotti casou-se com sua assistente Nicoletta Mantovani, com a qual tem uma filha, Alice, de 4 anos. O irmão gêmeo de Alice morreu no parto. Pavarotti disse nunca ter se recuperado do choque. Ele tem três filhas do primeiro casamento.

O tenor também ganhou as manchetes em 1998, por sonegação de impostos. Após atritos com as autoridades tributárias, pagou cerca de três milhões de euros. Sua fortuna é estimada em cerca de 250 milhões de dólares.

Despedida da Alemanha em 2005

Após quase 45 anos nos palcos das maiores óperas do mundo, "Big Luciano" anunciou sua despedida no dia 13 de março de 2004, com uma última apresentação em Nova York. Naquele mesmo ano, no entanto, iniciou uma turnê de despedida que teve de ser interrompida por problemas de saúde.

Pavarotti acena ao público em Stuttgart.
Pavarotti acena ao público em StuttgartFoto: AP

Sua última apresentação foi em fevereiro de 2006, alguns meses antes da cirurgia no pâncreas. Ele cantou na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno em Turim, na Itália. Mais uma vez, a ária Nessun Dorma, de Turandot de Puccini, emocionou milhares de pessoas.

Na Alemanha, o último concerto do cantor lírico aconteceu em 2005, em Stuttgart. Ele havia iniciado a turnê de despedida um ano antes, em Hamburgo. Pavarotti esteve no Brasil sete vezes, a última delas em 2000, com uma apresentação dos Três Tenores, no Estádio do Morumbi, em São Paulo. (rk)