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Países emergentes e G8

Geraldo Hoffmann3 de junho de 2007

Brasil, China, Índia, México e África do Sul participam como convidados da cúpula do G8. Estudo mostra posições contraditórias dos emergentes e diz que sua integração no "clube dos ricos" prejudicaria nações mais pobres.

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Os 'cinco grandes' têm peso decisivo na questão climáticaFoto: AP

Sem os países emergentes, o slogan da cúpula do G8 – "crescimento e responsabilidade" – não pode ser concretizado, disse recentemente a chanceler federal alemã, Angela Merkel. Ela tem razão. Todos esses países registraram em 2006 um farto crescimento de seu Produto Interno Bruto: México (3,5%), Brasil (4,4%), África do Sul (5%), Índia (9,2%) e a China até (10,7%). Segundo dados da Agência Federal Alemã de Comércio Exterior, a maioria deles continuará crescendo em 2007 e 2008.

Quanto mais suas economias crescem tanto maior é a autoconfiança com que esses países atuam no cenário internacional. Sem eles, por exemplo, quase nada é viável na Organização Mundial do Comércio (OMC) ou nas negociações sobre a proteção do clima. Suas empresas se expandem mundialmente e seus representantes já questionam a legitimidade do G8. Além disso, Brasil, Índia e África do Sul reivindicam, cada qual, um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

G8 G8-Länder KlimaCO2 Statistik Klima Grafik Brasilianisch
Países do G8 representam apenas 13% da população mundial

Na OMC, os big five integram o G20, um grupo de países emergentes e em desenvolvimento criado em 2003 na cidade mexicana de Cancún e que representa dois terços da população mundial. Nas negociações econômicas internacionais, os cinco às vezes passam a impressão de jogar numa liga própria.

Deslocamento de poder

"A ascensão econômica da China, da Índia, do Brasil e da África do Sul não necessariamente conduz a uma política econômica mundial orientada para os pobres." É o que conclui um estudo realizado pela organização filantrópica Brot für die Welt, ligada à Igreja Evangélica Luterana alemã, e pelo Instituto Südwind, que será apresentado durante a cúpula alternativa, na próxima quarta-feira (06/06) em Rostock.

Principalmente no Brasil, no México, na Índia e na África do Sul o fosso entre ricos e pobres ainda é enorme. Uma ampliação do G8 para um G13, como foi discutida nos últimos dias, poderia enfraquecer ainda mais a posição dos mais pobres.

"De fato, a dominância dos ricos países industrializados na OMC está diminuindo, mas os interesses dos pobres nos países emergentes e das nações menos desenvolvidas continuam sendo desprezados no sistema de comércio mundial", explica Reinhard Koppe, diretor de política de desenvolvimento da Brot für die Welt.

O estudo "China, Índia, Brasil e África do Sul: da contradição norte-sul à contradição rico-pobre em questões comerciais e financeiras" mostra que a ofensiva política econômica desses países nos últimos anos provocou um deslocamento de poder.

"Esses quatro Estados tornaram-se grandes potências não só em suas regiões e, sim, em determinados setores até mundialmente", diz Koppe. "Tanto na OMC quanto em acordos bilaterais e regionais, as nações industrializadas não conseguem mais impor seus interesses sem fazer concessões", acrescenta Friedel Hütz-Adams, autor do estudo. E isso considerando que os países emergentes, em parte, têm um comportamento contraditório.

A China como ameaça

O estudo lembra que o Brasil, na OMC, aposta numa estreita cooperação no âmbito do G20 e do grupo NAMA 11 [Argentina, Brasil, Egito, Índia, Indonésia, Namíbia, Filipinas, África do Sul, Tunísia e Venezuela]. "Ao mesmo tempo, o governo em Brasília se mostra conivente com as estruturas pouco transparentes da OMC ao articular, junto com a Índia, conversações reservadas com os EUA, a UE e o Japão."

A China, que até agora não conseguiu fechar muitos acordos bilaterais de liberalização do comércio, também aposta nas negociações da OMC e está disposta a apoiar posições de outros países emergentes e em desenvolvimento, mas ameaça esbarrar em conflitos de interesses, diz Hütz-Adams. Além disso, o engajamento da China na África já é visto como ameaça por governos e empresas das nações industrializadas, acrescenta.

A Índia se vê como porta-voz dos países em desenvolvimento no palco internacional, mas isso também poderá mudar em breve. A disposição do governo de, junto com o Brasil, travar negociações comerciais com os EUA, a UE e o Japão é vista por Hütz-Adams como uma advertência. "Ninguém sabe se a Índia continuará apoiando as metas do G20 e do G33 na OMC", diz.

Statistiken Schwellenländer, Bevölkerung, BIP, CO2 - Brasilianisch
Pesos-pesados da economia, mas também da poluição

O México, embora ainda seja considerado país emergente, já integra a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Entre os cincos "visitantes" da cúpula do G8, talvez seja o país que mais abriu sua economia desde os anos 90. Hoje mantém 13 acordos de livre-comércio com 42 Estados, entre eles um com a UE desde 2000. No ano passado, reduziu as taxas de importação para 148 países-membros da OMC.

Após o ingresso na Nafta em 1994, o mercado mexicano foi inundado por milho barato dos EUA. Como os norte-americanos começam a usar o milho para produzir etanol em grande escala, ele começa a faltar no México. "Por isso, nos últimos meses houve protestos contra o aumento do preço da tortilla e o país se mostra cauteloso nas negociações agrárias da OMC", diz Hütz-Adams. Além disso, a expansão da China e da Índia representa uma ameaça à indústria, principalmente de eletrônicos e de automóveis, tanto no México quanto no Brasil.

O estudo aponta ainda outras divergências entre os grandes países emergentes. O Brasil e a África do Sul, por exemplo, apóiam uma reforma do direito de voto no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial que dê mais voz aos países pequenos. Já a Índia e a China querem fortalecer suas próprias posições nessas duas instituições.

Na opinião de Hütz-Adams, será interessante saber se a Índia e a China apoiarão a nova proposta dos EUA para a proteção do clima. "Isso criaria uma estrutura paralela à ONU, na qual os pequenos Estados não teriam mais voz", conclui.