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Festival de Berlim

Tamsin Walker (sv)6 de fevereiro de 2007

Na edição 2007 do Festival de Berlim, a Alemanha sob o regime nazista é mais uma vez cenário de um longa-metragem de ficção.

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Karl Markovics como Salomon Sorowitsch: capítulo pouco conhecido do nazismoFoto: Beta Cinema

Depois do controverso A Queda (Oliver Hirschbiegel) e do não menos polêmico Meu Führer (Daniel Levy), o nazismo volta às telas em outra produção alemã, exibida na mostra competitiva do Festival Internacional de Cinema de Berlim.

Die Fälscher (Os falsários) – roteiro de ficção, com veio documental – trata de um capítulo pouco conhecido da história do regime nazista: o de uma operação de falsificação de dinheiro, cujo cenário foi o campo de concentração de Sachsenhausen.

"Gaiola de ouro"

Der Fälscher, Karl Markovics (Salomon Sorowitsch)
Foto: Beta Cinema

Nos três anos que antecederam o fim da Segunda Guerra Mundial, 142 prisioneiros foram obrigados a falsificar milhões de dólares e libras esterlinas. A idéia era provocar danos na economia dos Aliados.

O plano era ambicioso, porém o mais assustador na história é a forma como foi conduzido. Em duas barracas de madeira, os falsários eram mantidos presos no campo de concentração – alguns deles eram tipógrafos profissionais, outros acumulavam experiências com falsificações no currículo.

Nas acomodações "classe A" para os padrões de miséria que regiam nos campos de concentração, eles tinham direito ao que, naquele contexto, era considerado luxo: comida suficiente, camas limpas e macias, banheiros utilizáveis e até uma ou outra festinha de vez em quando. Em troca, faziam uso do know how profissional de que dispunham para falsificar dólares e libras. Enquanto milhares de pessoas eram maltratadas e morriam todos os dias, os falsários gozavam das regalias da "gaiola de ouro".

Oficina do diabo

Der Fälscher, Dolores Chaplin (Mädchen im Casino)
Foto: Beta Cinema

O filme, dirigido por Stefan Ruzowitzky e baseado nos relatos reais de Adolf Burger no livro Des Teufels Werkstatt (A oficina do Diabo), tem como personagem principal Salomon Sorowitsch, figura construída a partir do conhecido falsário da época chamado Salomon Smolianoff.

A existência de uma oficina de falsificações em pleno campo de concentração é um capítulo da história do nazismo conhecido há relativamente pouco tempo. As produtoras do filme – Babette Schröder e Nina Bohlmann – reconheceram, contudo, o potencial cinematográfico escondido no livro que haviam lido há seis anos. Após considerar várias possibilidades de criar um roteiro a partir do material, resolveram optar por um filme de ficção baseado nos relatos de Adolf Burger.

As produtoras abordaram o diretor Stefan Ruzowitzky, que se entusiasmou de imediato pelo projeto. "Perguntar como as pessoas podiam jogar pingue-pongue num campo de concentração, enquanto outros ao redor estavam sendo torturados até a morte, é o mesmo que questionar hoje como podemos levar uma vida confortável e segura, enquanto há tanto sofrimento no mundo", diz Ruzowitzky.

Sabotagem perigosa

Der Fälscher, Karl Markovics (Salomon Sorowitsch)
Foto: Beta Cinema

Durante o período de prisão "privilegiada", Burger e seus companheiros sabiam que, ao cooperar com seus carrascos, poderiam sobreviver, enquanto qualquer oposição às falsificações que eram obrigados a executar significaria a morte. Se alguns sofriam um drama de consciência por estarem fazendo isso, outros eram tomados pelo instinto de sobrevivência.

A personagem Salomon Smolinoff foi a que mais despertou o interesse das produtoras Schröder e Bohlmann, a partir das descrições detalhadas de Burger em seu livro sobre as tentativas do falsário de produzir os dólares falsos mais perfeitos. Os resultados, porém, nunca eram satisfatórios o suficiente, pois outros prisioneiros sabotavam os esforços de Smolinoff, sem que este estivesse ciente.

Por fim, os aliados já estavam a caminho de Berlim e não houve tempo suficiente para uma produção em massa das notas falsas. O material que deveria ser impresso ali, entre este 134 milhões de libras esterlinas, selos e outros documentos forjados, foi supostamente afundado no Lago Toplitz, na Áustria.

Entretenimento para o público

Der Fälscher, Karl Markovics (Salomon Sorowitsch)
Foto: Beta Cinema
Na nota introdutória a seu livro, Burger diz ter escrito os relatos "para que ninguém esqueça o que aconteceu". Opinião dividida pelo diretor Ruzowitzky: "Temos que contar histórias do Holocausto e somos moralmente obrigados a fazer isso, de forma a atingir o maior número de pessoas possível. Neste sentido, mesmo um filme sobre o Holocausto deve conter elementos de emoção e entretenimento. Os falsários é um filme que entretém", completa.