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Casal paraolímpico

Luiz Fernando de Oliveira 10 de janeiro de 2007

Eleita a melhor atleta paraolímpica do Brasil em 2006, Terezinha Guilhermina vai se casar com Matthias Schmidt, ex-capitão da seleção alemã de golbol. Em entrevista à DW-WORLD, ela relembrou sua trajetória.

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Ao buscar informações sobre o casamento binacional, o casal foi recebido pelo embaixador Seixas CorrêaFoto: Brasilianische Botschaft

De origem humilde, a mineira Terezinha Guilhermina, 28 anos, é mais um bom exemplo de como o esporte pode ajudar as pessoas a superar suas dificuldades. Terezinha, que é deficiente visual, começou a correr nas ruas da periferia de Betim (MG) e hoje, muitas medalhas internacionais depois, é uma das principais representantes brasileiras no atletismo paraolímpico.

Em visita à Embaixada do Brasil em Berlim nesta terça-feira (09/01), Terezinha foi recebida pelo embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, que ficou impressionado com a história de vida da atleta. "Ela é uma moça com um pensamento positivo fantástico. Eu fiquei muito feliz por tê-la recebido aqui na Alemanha", comentou o embaixador, em entrevista à DW-WORLD.

Terezinha esteve na Alemanha para conhecer a família do noivo, o atleta alemão Matthias Schmidt, 27 anos, que sofre da mesma doença: retinose pigmentar. Nesta quarta-feira, ela retornou ae Curitiba, onde treina para o Mundial de Atletismo Paraolímpico de São Paulo, de 1º a 5 de agosto, e para o Parapan do Rio de Janeiro, de 12 a 19 do mesmo mês.

Terezinha Guilhermina
Terezinha faturou o ouro nos 200m rasos no Mundial da Holanda, em 2006Foto: Comitê Paraolímpico

Matthias e Terezinha aproveitaram a visita à embaixada para se informar sobre o casamento binacional. O casal, que se conheceu na Paraolimpíada de Atenas, em 2004, planeja o matrimônio para depois da Paraolimpíada de Pequim, no ano que vem.

"É bem provável que vamos morar no Brasil pelo fato de ele falar bem português", disse Terezinha. Matthias ainda não fez sua opção. "Depois de Pequim, vamos nos casar e então decidir onde morar. Será mais fácil eu morar no Brasil do que ela na Alemanha. Estou muito apaixonado e quero fazer tudo pela Terezinha", comentou ele.

Estudante de Direito, Matthias defendeu a seleção alemã de golbol (esporte disputado apenas por deficientes visuais e que lembra o handebol) dos 16 aos 25 anos. Deixou o time quando era capitão, passando a competir no atletismo. A mudança de esporte permitiu o reencontro de Matthias com Terezinha, no Mundial Paraolímpico de Atletismo da Holanda, em 2006. Ocasião em que ele a pediu em namoro.

Para Terezinha, nem ouro nem prata se equivalem a sua vitória mais importante, ter conquistado Matthias e construir uma família com o atleta alemão. Uma história com final feliz, mas com um começo nada fácil. Em entrevista à DW-WORLD, Terezinha deu uma lição de vida ao falar de sua trajetória como atleta.

Começo difícil

Vencedora do Prêmio Brasil Olímpico como melhor atleta paraolímpica de 2006, a mineira de Betim segue acumulando vitórias em importantes competições, como os mundiais de atletismo, paraolimpíadas e parapanamericanos. "Doze medalhas internacionais para quem comia farinha com açúcar e não tinha tênis. Acho que cheguei longe", ressaltou a atleta.

Terezinha Guilhermina
Bons resultados nas competições rendeu patrocínio para Terezinha e seu guia ChocolateFoto: Comitê Paraolímpico

O começo no atletismo foi bastante difícil para Terezinha. Com menos de 10% de visão nos dois olhos, ela começou a correr sozinha, aos 22 anos, depois que ganhou o primeiro par de tênis da irmã – que trabalhava como empregada doméstica. "Às vezes, eu fugia dos sacos de lixo pensando que era um cachorro", brinca a atleta, que hoje só consegue distinguir entre a luz do dia e a noite.

Com um tênis gasto, velho e nada apropriado para a corrida, ela teve problemas nas pernas. Um médico a aconselhou a parar de correr, senão poderia ter uma perna amputada. "Eu disse para o doutor que só pararia de correr depois que cortassem minha perna", lembra Terezinha, que continuou treinando por conta própria.

Dez quilos mais magra e com muita disposição, a betinense conquistou suas primeiras medalhas em competições de pouca expressão, mas que a credenciaram para disputar o Parapanamericano da Carolina do Sul (EUA), em 2001, de onde retornou com duas medalhas de prata e uma de bronze. "Até então eu não havia saído de Minas Gerais. Aí eu decidi que queria ser a melhor do mundo."

Sucesso profissional

A pretensiosa meta foi alcançada no Mundial Paraolímpico de Atletismo da Holanda, em 2006, quando Terezinha tornou-se a melhor do mundo nos 200 metros rasos. Além do ouro, também ganhou para o Brasil duas medalhas de prata (100 metros e 400 metros). Antes, ela já havia conquistado sua primeira medalha paraolímpica, um bronze nos 400 metros rasos dos Jogos Paraolímpicos de Atenas.

Com bons resultados nas pistas, Terezinha superou também as dificuldades financeiras, passando a viver com o que recebe do esporte. Hoje, ela conta com o patrocínio de uma grande empresa, que remunera também o seu guia (que corre com ela nas competições), o atleta Jorge Luiz Silva de Souza, o Chocolate.

"Eu tenho um patrocinador no Brasil, enquanto na Alemanha há apoio apenas do governo. O reconhecimento do esporte paraolímpico no Brasil é intenso", comentou a atleta, fazendo um comparativo entre os dos países. Segundo ela, no esporte para deficientes, Curitiba tem tanto a oferecer quanto Berlim.

Terezinha pretende competir até as Paraolimpíadas de Londres, em 2012. Enquanto isso, estuda Psicologia e treina duro para realizar um desejo antigo. "Meu maior sonho é entregar uma casa de presente para meu pai, o que eu prometi para ele." Por enquanto, ela segue competindo e, quando alguém pede um autógrafo, com um carimbo ela deixa escrito: "de Terezinha Guilhermina para quem sabe realizar sonhos".