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Caos e anarquia: entra em vigor a nova ortografia alemã

Klaus Dahmann (rw)1 de agosto de 2006

A nova ortografia alemã torna-se vinculativa e passa a vigorar em estabelecimentos públicos e escolas alemãs neste 1º de agosto. Mas há quem pense que, em vez de maior uniformidade, a reforma só trará confusão.

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Maneiras diferentes para escrever a mesma coisaFoto: AP

A partir desta terça-feira (01/08), a reforma ortográfica do alemão assume caráter vinculativo em escolas e repartições públicas. Em um ano, então, ela adquire vigência definitiva. Assim termina um período transitório de dez anos, em que as duas ortografias – a antiga e a nova – coexistiram oficialmente. Para o redator Klaus Dahmann, da Deutsche Welle, o caos continuará.

"A impetuosidade desapareceu dos debates sobre a reforma ortográfica, dando lugar a uma desgraça maior: a indiferença. E isto levará – quase que obrigatoriamente – à anarquia ortográfica. Há para isso uma série de causas. Causas que em parte poderiam ter sido evitadas pelos iniciadores da reforma, mas que foram simplesmente ignoradas, em parte, pois não havia como evitá-las.

Com certeza, os iniciadores foram profissionais da área, isto é, filólogos. Já aqui começa o dilema, pois nem todos eles estavam e estão convencidos da real necessidade de uma reforma. Quase 600 filólogos e especialistas em literatura publicaram em 1998 uma carta aberta contra ela. Não se pode esquecer que a concorrência entre germanistas é uma das mais acirradas no mundo acadêmico. As trincheiras pró e contra a reforma eram praticamente inevitáveis.

Reforma não consensual

Da mesma forma, subestimou-se o esperado protesto no mundo acadêmico: escritores e jornalistas praguejaram, desmascararam supostas melhoras como farsa e acabaram com a autoridade dos 'pais da reforma'.

Também os políticos, sem os quais ela não poderia ser colocada em prática, desempenharam um papel vergonhoso. Alguns representantes do povo deram uma de executores precipitados; outros, de bloqueadores – completando o caos. Assim, dez Estados alemães já introduziram as novas regras nas escolas dois anos antes do previsto. Mais tarde, poderiam argumentar com a dificuldade em retroceder.

Por fim, a Comissão de Orçamento do Parlamento intrometeu-se no assunto, retirando dos secretários estaduais de Cultura a competência pela reforma ortográfica. Solicitou-se uma revisão do projeto, cuja nova versão também viria a ser rejeitada. Neste meio tempo, adotou-se uma versão revista da revisão, mas as regras aí contidas já pouco interessam.

Cegueira ou ingenuidade?

Quem até hoje argumenta que não era de se prever este vaivém em torno da reforma ortográfica é cego ou ingênuo. Ou até mesmo ambos. Pois aqui não se trata da questão meramente técnico-racional sobre como se sobrevive com o menor número possível de regras ortográficas.

O assunto em questão envolve profundas emoções ligadas ao idioma materno. Trata-se da perda de autoridade sofrida pelos pais diante dos filhos, quando não conseguem mais distinguir com segurança o certo e o errado em redações da escola fundamental.

A reforma não atingiu a meta de facilitar a escrita através de regras simples. Para isso, seria necessário um rompimento mais radical com as tradições da escrita, o que, entretanto, não teria sido nada realista.

Por fim, em vez de maior uniformidade, haverá mais caos e anarquia. E isto deverá perdurar por séculos. Há apenas uma vantagem: ninguém mais procurará erros de ortografia com a mesma obstinação de antigamente."