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Relações internacionais

14 de dezembro de 2011

País coloca-se como experiente no enfrentamento de crises e dispõe-se a ajudar a UE em troca de processo decisório equilibrado. Enquanto isso, governo faz balanço positivo do primeiro ano de Dilma Rousseff e traça metas.

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'Estaríamos dispostos a fazer as contribuições necessárias via FMI', diz GarciaFoto: Antonio Cruz/ABr

Inquietação é a palavra de ordem no governo brasileiro no que se refere à crise europeia. A presidente brasileira, Dilma Rousseff, tem demonstrado publicamente que acompanha de perto o desenrolar da crise e as estratégias adotadas pelos países do continente.

"Ela [Dilma] está colocando no centro das preocupações a necessidade que os países desenvolvidos têm hoje de se colocarem de acordo, seja na União Europeia, seja nos Estados Unidos", disse o assessor especial da presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, em conversa com correspondentes estrangeiros em Brasília nesta quarta-feira (14/12).

Mas o governo brasileiro está preocupado com as medidas adotadas. "Esperamos que esse acordo recente entre os países da União Europeia, com exceção do Reino Unido, possa dar alguma estabilidade, mas temos dúvidas de que essa estabilidade possa vir se outras questões de fundo não forem atacadas", disse ao comentar a decisão tomada pela cúpula europeia de repassar 200 bilhões de euros até a próxima segunda-feira ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

O Brasil, por sua vez, apresenta-se como possível credor. "A posição brasileira no que diz respeito a auxílios é que estaríamos dispostos a fazer as contribuições necessárias via FMI, mas, ao mesmo tempo, acreditamos que essas contribuições devam ser refletidas numa mudança da própria composição da direção do Fundo", alertou Garcia.

Além de inquietação, há um sentimento de temor que ronda o governo brasileiro, que se manifesta em uma dimensão econômica e política. "A Europa é um dos componentes da civilização brasileira e não podemos ficar alheios a esses problemas políticos. Ficamos um pouco inquietos com as consequências que a crise europeia pode ter do ponto de vista do funcionamento do sistema democrático", disse o assessor.

Primeiros 12 meses

A política externa aplicada no primeiro ano do governo Dilma Rousseff seguiu o caminho que havia sido traçado durante os oito anos do governo Lula da Silva. América do Sul e África foram as regiões centrais, mas as ações também destacaram uma participação do Brasil em discussões multilaterais em outras áreas do globo, como na União Europeia e nos Estados Unidos.

Apesar desse papel de destaque em uma agenda prioritariamente positiva, o Brasil também foi foco das atenções do mundo, citou Garcia. Denúncias de corrupção envolvendo ministros levaram à demissão de seis deles. Recentemente, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, tornou-se o novo alvo. Sobre ele caem denúncias de supostas irregularidades em consultorias que prestou entre os anos de 2009 e 2010. A situação do ministro Fernando Pimentel ainda é incerta, tendo em vista a reforma ministerial prevista para janeiro de 2012.

As trocas sucessivas têm sido encaradas como "faxina", mas não é assim que o governo vê a situação. "Esse processo em relação a alguns ministros correspondeu a uma posição do governo de que, diante de denúncias, nós faríamos as substituições necessárias", disse Garcia.

O assessor ressaltou, entretanto, que a demissão de ministros não significa condenação e garantiu que o governo tem mecanismos próprios de apuração de irregularidades. Segundo ele, o saldo é positivo: "São circunstâncias particulares e que tiveram uma percepção muito positiva na sociedade brasileira".

Posições para o futuro

Mudanças internas, principalmente no campo das políticas públicas, nortearam a política externa brasileira nos últimos meses. "Se um país não resolve seus grandes problemas, dificilmente pode garantir uma presença internacional mais sólida. E nós temos hoje uma presença mais sólida que a que tínhamos algumas décadas atrás", comemorou Garcia. Inclusão social e redução das desigualdades estiveram no foco das políticas do governo este ano e deverão permanecer assim no futuro próximo.

O Brasil pretende aumentar a exportação de produtos de valor agregado. Com a recente descoberta de grandes reservas na área chamada Pré-Sal, por exemplo, o país quer ficar entre os quatro maiores produtores mundiais de petróleo.

No âmbito regional, o Brasil tem procurado estreitar os laços para manter o Mercosul distante da crise e mais coeso nas relações comerciais. Segundo Garcia, há, especialmente com a Argentina, uma preocupação em aumentar o conteúdo regional dos produtos industriais: "Em certos setores, como o automotriz, em que a região é muito importante, ainda temos uma dependência muito grande de autopeças".

Garcia complementou dizendo que a América do Sul pretende ter lugar garantido numa nova ordem multipolar. "Queremos resolver os nossos problemas, os problemas da América do Sul, de forma conjunta", conclui Garcia apostando numa posição de maior destaque no cenário internacional.

Autora: Ericka de Sá
Revisão: Roselaine Wandscheer