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Conflito na Líbia

16 de setembro de 2011

Os seguidores do regime de Kadafi ainda resistem em alguns pontos e a operação militar da Otan prossegue na Líbia. Há suspeitas de que militares das forças aliadas atuem também em solo líbio.

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Sirte, um dos últimos redutos das forças fiéis a KadafiFoto: dapd

Abdul Basser Richi sobreviveu a um dos chamados bombardeios "cirúrgicos" da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) à capital Trípoli, na Líbia. "A rua toda foi destruída: carros, prédios, tudo pegou fogo", descreve a cena que presenciou na manhã de 19 de junho.

No entanto, a destruição completa da casa da família de Richi, onde vivia com seus pais e nove irmãos, permanece como uma prova daquele ataque da Otan, classificado pela aliança como uma "falha provocada por erro no sistema de armas". Foi a terceira vez que os aliados tiveram que admitir que haviam atingido um alvo por engano.

Nenhum dos familiares de Richi foi ferido na ocasião. Mas o vizinho, Ali Garari, não teve a mesma sorte: o homem de 70 anos perdeu seis familiares, soterrados pelos escombros da casa. A maioria dos moradores do distrito de Harada, a leste de Trípoli, acreditam que a Otan queria atingir uma residência "secreta", onde estaria escondido Saif al Islam, o segundo filho de Kadafi. Mas as bombas atingiram a casa de Ali Garari.

"O governo Kadafi deu a Ali um carro novo para compensá-lo, e ele depois partiu, não sabemos para onde", contaram os vizinhos à Deutsche Welle.

As vítimas de bombardeios da aliança militar ocidental parecem estar entre os "esquecidos" do atual conflito na Líbia. A coalizão não tem uma representação pública em Trípoli e não fez qualquer comentário sobre a operação. Não há dados sobre as vítimas da Otan, ou da coalizão internacional, também o Conselho Nacional de Transição – liderança líbia – ainda não falou sobre o tema.

Em 2 de agosto, a Anistia Internacional escreveu ao secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, pedindo explicações sobre os incidentes registrados em junho – segundo relatos, civis desarmados teriam sido mortos e feridos em Trípoli.

Desde março, as organizações humanitárias dizem que pedem, insistentemente, acesso aos territórios antigamente sob controle das forças de Kadafi com intuito de investigar as denúncias de violação dos direitos humanos e das leis internacionais. Esses locais incluem regiões bombardeadas pela Otan onde houve morte de civis. A Anistia Internacional afirmou que, até agora, não recebeu qualquer resposta.

Propaganda

Desde que a Otan começou suas operações aéreas, em março último, a capital da Líbia tem sido inundada com folhetos que tentam minar moralmente as tropas de Kadafi. No primeiro deles, que trazia caricaturas grosseiras de Kadafi e de seguidores soluçando, a Otan pedia ao exército líbio que "parasse de obedecer às ordens de Kadafi e de cometer crimes contra o povo líbio", adicionando que "qualquer oficial ou soldado que comete crimes contra a humanidade viola o Direito Internacional".

A mensagem do segundo folheto não foi tão elaborada, mas é bastante eloquente. Uma  aeronave de observação não tripulada é vista ao lado de um tanque de guerra com o seguinte texto: "Atenção: você não é equivalente ao sistema superior de armas e a força aérea da Otan. Se você continuar fazendo o que está fazendo, vai morrer." O outro lado  do folheto mostra um tanque explodido.

Campanha no solo

Ao lado da campanha aérea e das operações de propaganda, acredita-se que  militares estrangeiros estejam atuando no território da Líbia desde abril. Combatentes de Nalut – um vilarejo berbere nas montanhas no oeste da Líbia – mencionaram à Deutsche Welle nos últimos três meses a presença de três militares estrangeiros, "dois franceses e um norte-americano". Eles estariam supostamente baseados no quartel-general dos rebeldes em Nalut.

A reportagem da Deutsche Welle não conseguiu confirmar a informação: o acesso à base de Nalut foi negado. O mesmo não aconteceu, no entanto, em outras bases militares rebeldes, como Zintan, Jadu e nas montanhas de Nafusa.

Numa rara entrevista com um dos comandantes, feita num hospital do vilarejo, a reportagem da Deutsche Welle ouviu que outras "operações no solo" podem ter acontecido no território da Líbia sob comando "estrangeiro".

"Havia um jornalista irlandês conosco desde o começo, que estava sempre escoltado por quatro homens", disse à Deutsche Welle o comandante da Brigada de Trípoli, Fituri Ali Sahad. "Ele esteve conosco em cada operação contra as tropas de Kadafi. Ele estava em constante comunicação com o seu jornal por meio de telefone via satélite durante os ataques. Ele nos disse que não falava árabe, e por isso não pudemos conversar entre nós. No fim, estava mais do que óbvio para mim que ele tinha uma formação militar", disse Sahad, de 29 anos, que se recuperava no hospital de ferimentos a bala.

A Otan nega firmemente que tenha tropas em solo líbio, mas diz que lançou mais de 4 mil bombardeios aéreos desde o começo dos ataques na Líbia, todos "com intenção de proteger os civis do regime de Kadafi".

Autor: Karlos Zurutuza (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer