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Analista diz que Angola quer evitar efeito de contágio

7 de setembro de 2011

"Governo de Angola pretende eliminar todos os focos que constituam uma ameaça à sua existência", diz o analista Orlando Castro. Daí que a polícia tenha usado força excessiva contra manifestantes no protesto deste sábado.

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Luanda, a capital angolana, foi palco de uma manifestação no último sábado. Analistas acreditam que outras se poderão seguir
Luanda, a capital angolana, foi palco de uma manifestação no último sábado. Analistas acreditam que outras se poderão seguirFoto: picture-alliance/ZB

A Deutsche Welle entrevistou o jornalista e analista luso-angolano sobre a atuação da polícia em relação à manifestação contra o Governo do Presidente José Eduardo dos Santos.

Deutsche Welle: O que terá levado a polícia a reprimir violentamente os manifestantes?

Orlando Castro: Quanto a mim, a repressão deveu-se ao temor que o regime tem de que os exemplos da Tunísia, do Egito e da Líbia possam ser transportados para Angola. É um receio legítimo por parte de um regime autoritário que quer de uma forma irracional e muito pouco democrática cercear o direito à livre expressão que os povos têm ou deveriam ter. E por isso, tendo uma situação similar, o Governo procurou cortar pela raiz tudo quanto lhe pareça poder vir a criar problemas.

Porträt Orlando Castro
Orlando Castro, journalista e analistaFoto: privat

DW: O número de detidos divulgado pela polícia não coincide com o divulgado por testemunhas oculares na manifestação. Acha que existe alguma má intenção da polícia em relação aos detidos?

OC: Na minha opinião, existe uma má intenção, uma premeditação e toda uma estratégia de repressão, quer a nível da polícia fardada, quer ao nível da polícia secreta de Angola que estava à civil e que foi para a manifestação provocar os manifestantes de modo a que pudessem implementar a repressão. A polícia provoca os manifestantes e depois leva-os a julgamento e o único ato ilícito que os manifestantes cometeram foi julgarem que poderiam dizer o que pensam. Mas como o regime só permite que se diga o que o regime pensa, os manifestantes estão condenados a sempre que saírem à rua, terem a força repressora do regime em cima deles.

DW: Os jornalista também não foram poupados pela polícia. No caso de jornalistas estrangeiros ou que trabalham para órgãos estrangeiros, o gesto pode ser interpretado como um aviso de não intromissão?

OC: O gesto pode e deve ser entendido como uma aviso de que o regime não permite que a comunicação social diga o que lá se passa, porque mesmo que os jornalistas não estejam no local, acabam por saber o que lá acontece. O regime ainda não percebeu isso, tem todas as características de uma ditadura do estilo “eu quero, posso e mando”, eles avisam os jornalistas desta forma, mas mesmo jornalistas estrangeiros para entrarem no país, são poucos os que vão.

DW: E depois desta repressão da polícia, acredita que haverá mais contestações em Luanda?

OC: As contestações vão passar a acontecer de uma forma mais regular, se bem que a juventude e a oposição estão a ver que a solução, por aí, não vai a lado nenhum, porque a força repressora do regime é muito grande. Mas é óbvio que a repressão que o regime levou a cabo desta vez, e das outras, mostra que o MPLA, o partido no poder, está com medo. E isso dá força para que a população entenda que através das redes sociais ou de outras formas a população entenda, com toda a legitimidade, que deve vir para a rua manifestar-se, embora saiba à partida que está sujeita a ser castigada e eventualmente a ser morta.

Autora: Nádia Issufo
Edição: Marta Barroso