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Protestos na Síria

17 de agosto de 2011

O governo sírio reprime as revoltas com brutalidade, matando centenas. Mesmo assim, ainda tem apoio de importantes setores da sociedade. Para especialistas, medo de mudanças é o principal trunfo do regime.

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O palácio do presidente Bashar al-Assad se localiza num ponto elevado de Damasco. Cercas de arame farpado protegem o complexo de concreto, fazendo a construção parecer uma fortaleza. Tão inexpugnável quanto o palácio parece ser o próprio regime sírio. Entretanto, há sinais de que a elite política se divide. Algumas pessoas no governo estão frustradas com Assad e suas forças de segurança, conforme um representante do governo dos EUA citado recentemente pelo The New York Times.
O apoio que Assad goza na população é, no entanto, difícil de se avaliar a partir do exterior. Há pouca informação independente, já que jornalistas não são autorizados a entrar no país. Adeptos do regime, como o professor universitário Bassam Abou Abdallah fazem todos os esforços para minimizar os protestos. "O regime continua muito forte depois destes cinco meses. Tem resistido bem à pressão crescente do exterior. A população síria rejeitou o caos e não quer seguir o exemplo da Líbia e do Iêmen", disse o jurista, que leciona na Universidade de Damasco.
Vários vídeos publicados na internet mostrando manifestações de massa, porém, contam uma história diferente. Os protestos já duram cinco meses e, de acordo com a oposição, já matou até agora cerca de 2 mil opositores do governo. De onde Bashar al-Assad tira a confiança em seu poder?
Alauítas em posições estratégicas
"O Exército e os serviços de segurança estão até agora do lado do presidente", diz Rudolph Chimelli, correspondente e especialista em Oriente Médio do jornal alemão Süddeutsche Zeitung. Especialmente o irmão mais jovem de Assad, Maher, um linha-dura absoluto, está provavelmente disposto a defender o regime a qualquer custo.
Com 43 anos, ele comanda a chamada Quarta Divisão do Exército sírio. Essa unidade de elite brutal invade vilarejos e executa manifestantes. "Assad é apoiado em posições-chave da sua estrutura de poder, no Exército e nos serviços de segurança, predominantemente por outros alauítas. E eles põem, naturalmente, suas vidas em risco se o regime cair", diz Chimelli. Já o pai de Assad, Hafez al-Assad, distribuiu posições importantes no governo e no Exército a irmãos de credo que lhe eram leais. E a minoria xiita dos alauítas representam apenas 12% dos cerca de 22 milhões de sírios.
O especialista considera exagerados os relatos da oposição de que cada vez mais soldados e policiais se recusam a atirar nos manifestantes e preferem passar para o lado dos opositores do regime. "A partir de fontes confiáveis nos países vizinhos, sabemos que até agora houve poucos desertores", afirma Chimelli.
A classe média fica quieta
Mas Assad também se beneficia do fato de que classes mais abastadas até agora não participam dos protestos. "O presidente pode contar, até certo ponto, com a burguesia urbana de Damasco e de Aleppo. Eles não estão entusiasmados com o presidente mas, para eles, Assad ainda é a garantia de estabilidade e de prosperidade", explica Chimelli.
"As reformas econômicas dos últimos anos têm aumentado o abismo entre ricos e pobres. Os comerciantes e empresários urbanos foram beneficiados, os subúrbios e a província rural, no entanto, estão ficando para trás no desenvolvimento. Estas áreas empobrecidas do país são agora palco das manifestações", diz Samir Aita, dissidente e editor da edição em língua árabe do jornal Le Monde Diplomatique.
Mas, mesmo a classe média não vai ficar calada para sempre. "Há um forte sentimento de injustiça social, mesmo entre a burguesia. A sensação de que este tipo de capitalismo na Síria só foi feito para parentes e amigos. Quando um membro da burguesia for morto, Damasco e Aleppo também se revoltarão", diz.
Cristãos têm medo
Assad tira proveito das tensões religiosas no país. A maioria dos sírios é sunita. A família real alauíta, os cristãos, drusos e xiitas são, numericamente, minoria. Muitos padres e bispos apoiam publicamente o presidente, o elogiam em seus sermões de domingo.
"Os cristãos têm liberdade completa sob os Assad, não há discriminação religiosa contra eles. E agora eles têm medo, naturalmente, de que a situação fique desagradável se o próximo regime for estipulado pela maioria sunita", diz Chimelli.
E o regime faz tudo para atiçar os temores das minorias. Em seus discursos públicos, Assad e seus seguidores equiparam os manifestantes com fundamentalistas intolerantes que querem estabelecer uma teocracia na Síria.
A tática do regime de provocar pânico também faz efeito entre as minorias porque não há atualmente uma oposição unificada. "Os opositores do regime têm que se organizar melhor", diz Samir Aita. "O regime tem lacaios que o apoiam, porque têm muito a perder e não porque o presidente seja bom. Muitas pessoas temem pela continuidade do Estado sírio e têm medo de uma mudança. Esclarecer isso é tarefa da oposição", complementa Aita.
O regime de Assad, ao que parece, se baseia sobretudo numa coisa: no medo da população do futuro. Mas o medo, como foi comprovado pelas revoluções dos tunisianos e dos egípcios, não é uma base sólida para o poder.
Autora: Julia Hahn (md)
Revisão: Carlos Albuquerque