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Paquistão: jogo duplo?

8 de agosto de 2011

Osama bin Laden, o líder da Al Qaeda, manteve-se durante anos escondido na paquistanesa Abottabad. O fato suscitou desconfiança a respeito da confiabilidade do Paquistão como real aliado do Ocidente.

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Foto: AP/DW

As relações entre o Paquistão e os EUA sempre oscilaram: nos anos 1980, Islamabad e Washington cultivaram uma parceria estreita, pelo menos até a saída da Rússia do Afeganistão, entre 1988 e 1989. Aí os EUA perderam o interesse pelo Paquistão.

Este só voltaria depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, sobretudo por Washington ver o Paquistão como estação intermediária no combate aos talibãs e à Al Qaeda. Nessa fase de nova cooperação estratégica, o Paquistão cedeu, mas com resistências, já que Islamabad mantinha boas relações com o regime dos talibãs e têm, até hoje, sérios interesses econômicos no país vizinho.

"O outro interesse do Paquistão é o de conquistar o que se chama de profundidade estratégica no Afeganistão. Ou seja, estabelecer um governo afegão que corresponda aos interesses paquistaneses", explica o especialista Conrad Schetter. Por isso, Islamabad não tem interesse em combater com veemência os talibãs, seus antigos aliados.

Com "profundidade estratégica no Afeganistão" entende-se uma área de retaguarda para as forças paquistanesas, em caso de guerra contra a Índia. A estratégia tem razão de ser, já que Paquistão e Índia, ambos potências nucleares, já passaram por três guerras um contra o outro. As disputas territoriais em regiões de fronteira não foram até hoje resolvidas. E a rivalidade entre os dois vem gerando conflitos há décadas.

Dreiergipfel Washington
Cúpula em WashingtonFoto: AP

Aliados contra a Índia

A atual estratégia de Islamabad é procurar uma cooperação estreita com forças fundamentalistas, explica Rahimullah Yusufzai, especialista em terrorismo paquistanês. O Paquistão parte do princípio de que esses fundamentalistas defendem, a priori, uma postura avessa à Índia, já que o país não é de maioria muçulmana. E Islamabad quer, no caso de um novo conflito contra o vizinho, contar com aliados no Afeganistão. Os talibãs, com suas metas de fundar um Estado religioso na região de Hindukush, se prestariam bem aos planos do Paquistão.

Uma política que, de acordo com Yusufzai, o Ocidente não consegue ou não quer entender. "As diferenças de opinião entre o Paquistão e os EUA e outros países ocidentais está na política frente ao talibã. O Paquistão visa uma solução política e quer negociar com o talibã. Além disso, Islamabad quer desempenhar um papel decisivo nessas negociações. Os EUA, por outro lado, querem continuar derrotando o talibã", resume Yusufzai.

Exigências claras dos EUA

Entretanto, até mesmo o governo norte-americano passou a optar por negociações com o talibã, mas antes este tem que se distanciar da rede terrorista Al Qaeda. Aproximadamente 100 mil soldados norte-americanos estacionados no Afeganistão têm como meta forçar os talibãs a negociações de paz. Ataques veementes às regiões de concentração dos extremistas no Paquistão fazem parte da estratégia norte-americana.

A mensagem dos EUA é clara: uma cooperação entre o Paquistão e os terroristas jamais seria tolerada. E isso já foi entendido por diversos representantes do governo em Islamabad, acredita o cientista político Jochen Hippler. "Muitas das vítimas da violência no Paquistão nos últimos anos estão aliadas ao fato de que a guerra no Afeganistão acabou refletindo no próprio território paquistanês. Mas manter o Afeganistão instável é, a longo prazo, mais desvantagem que vantagem para o Paquistão", completa Hippler.

Mesmo assim, muitos especialistas duvidam que o governo paquistanês esteja em condições de dar uma guinada de 180 graus em sua política. As forças armadas paquistanesas são poderosas e o serviço secreto do país, influente - às vezes até mesmo dominante. Por outro lado, o país também não quer abdicar da ajuda bilionária de Washington. Por isso, Islamabad faz um jogo duplo perigoso, a fim de manter, ao mesmo tempo, boas relações com os fundamentalistas aliados e com o governo norte-americano, acreditam os especialistas. Um jogo que os EUA não estariam mais dispostos a tolerar por muito tempo.

Pakistan Islamisten Trainingslager an der Grenze zu Afghanistan
Campo de treinamento para islâmicos na fronteira paquistanesa com o AfeganistãoFoto: AP

Parceria difícil

No entanto, para gerar uma mudança de pensamento no Paquistão, Washington teria que ter muita paciência, diz Hennig Riecke, especialista em política norte-americana da Sociedade Alemã para Política Exterior (DGAP, do alemão). O governo norte-americano praticamente não teria, nesse caso, outra alternativa.

"Os americanos tentam exercer mais pressão sobre o Paquistão. Ao mesmo tempo, sabem também que, se essa pressão for grande demais, o já frágil governo em Islamabad poderá ruir e os danos serão maiores para todos. Pois aí é possível que forças islâmicas venham a tomar o poder". E isso, acrescenta Rieke, os EUA não querem de forma alguma.

Washington e Islamabad perseguem, no combate contra o talibã e a Al Qaeda no Afeganistão, interesses certamente diversos. Mesmo assim, ambos dependem um do outro nesta parceria difícil que os une.

Autor: Ratbil Shamel (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer