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Salvadores da arte moderna

Udo Taubitz (sm)3 de março de 2005

A arte moderna tem uma breve sobrevida. Materiais novos e técnicas inusitadas fazem esculturas, quadros e instalações envelhecer e perecer com rapidez. Restauradores tentam deter a deterioração.

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Cadeira de Verner Panton: clássico do design em perigoFoto: Vitra Design Museum

O envelhecimento do plástico é o maior perigo para os objetos de arte moderna. Um exemplo disso é o protótipo da famosa Panton, a cadeira de um só molde produzida em 1967. A peça se encontra no Museu de Design Vitra, em Weil am Rhein, à espera de salvação. A camada superior, cor-de-laranja, está descascando.

A restauradora Friederike Waentig, de Colônia, ainda não sabe como resolver o problema, mas já fez o diagnóstico. A cadeira consiste em diversos materiais plásticos que não se mantêm agregados por muito tempo. "Além da camada de puro poliéster, há um material composto de fibra de vidro e poliéster. Cada material reage de forma diferente a calor e umidade, o que acaba levando a tensões internas", explica Friederike Waentig. Junto com a restauradora Kathrin Kessler, ela está testando 50 colas diferentes.

A decadência e suas surpresas

Em matéria de restauração de arte, os alemães estão bem à frente, gozando da fama de ser especialmente cuidadosos e inventivos. Inúmeras universidades formam profissionais nesta área.

Mais de 200 membros da Associação dos Restauradores (Verband der Restauratoren) são especializados em arte moderna. A batalha deles contra a deterioração muitas vezes é bem mais acirrada que a dos profissionais "clássicos". Fazer pinturas a óleo brilharem novamente dá trabalho, é claro, mas é uma tarefa de rotina. Afinal, a reação dos pigmentos à tela é amplamente conhecida. Mas com materiais modernos, a coisa muda de figura.

Faxineira zelosa demais

Keith Haring
Keith Haring em frente ao trecho do Muro de Berlim pintado por ele, em 1986Foto: AP

Um outro exemplo é o grafitti de Keith Haring na Academia de Arte de Utrecht, que foi esfregado com tanto zelo por uma faxineira, até desaparecer pela metade. Lydia Beerkens recuperou os homenzinhos pixados usando pincel atômico.

Um objeto de feltro de Joseph Beuys foi soltando pêlo e perdendo a forma com o tempo. Johanna Hoffmann conseguiu reimplantar as fibras perdidas. Restauradores umedecem desenhos a giz com vapor de gelatina e cimentam peças de PVC. Mas consertar não basta. As "peças de reposição" têm que se encaixar perfeitamente e ter uma durabilidade razoável, sem ameaçar a autenticidade da obra de arte.

Submeter-se à arte

Os restauradores também têm que lidar com questões éticas, explica Barbara Sommermeyer, diretora da seção de arte moderna da Associação dos Restauradores: "É preciso lidar com as obras de arte de maneira integrativa. O fundamental é que o restaurador se submeta à obra". A meta é descobrir o que o artista queria de fato, diz Barbara Sommermeyer.

Durabilidade é o de menos

Designers e artistas parecem não estar nem aí com a expectativa de vida de seus "filhos". No êxtase da criação, eles não hesitam em recorrer a todos os materiais possíveis, sem levar em conta as complexas reações químicas envolvidas. Simplesmente misturam materiais plásticos, cujas macromoléculas se desagregam em contato com o ar. Fazem videoinstalações cujos impulsos magnéticos perdem a intensidade a cada dia. Pintam com giz pouco durável. Ou até mesmo com fluidos do corpo humano, algo considerado puro mau gosto por certas pessoas, mas altamente apreciado por fungos e bactérias...

Santiago Sierra Schlammhaus in Hannover
O artista espanhol Santiago Sierra: lama como material de arteFoto: dpa

Quando os artistas ainda estão vivos, os restauradores os consultam. Mas isso raramente ajuda de fato, comenta Barbara Sommermeyer: "Um exemplo que eu sempre cito é o de George Seagal, que disse que era para as suas figuras de gesso serem pintadas de branco sempre que necessário. Só que com o tempo elas simplesmente se transformariam em pelotes brancos, imensos e disformes. Assim também não dá".