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Saúde e lucro

8 de maio de 2011

Conhecidas como doenças negligenciadas, elas afligem mais de 1 bilhão de pessoas no mundo. Recorrentes em países subdesenvolvidos, doenças não despertam a atenção da indústria farmacêutica.

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Leishmaniose é uma das doenças negligenciadasFoto: AP

A briga contra os gigantes conglomerados farmacêuticos, desta vez, não será um confronto direto. É essa a estratégia de um grupo de cientistas internacionais, com participação brasileira, que acaba de fundar uma iniciativa que busca soluções alternativas a doenças relegadas pela lucrativa indústria da cura.

A rede é formada por 30 cientistas de seis países – sendo 16 brasileiros. A missão do grupo é driblar a falta de interesse das farmacêuticas e combater as chamadas doenças negligenciadas com ajuda da natureza.

O foco dos pesquisadores se volta para as 13 enfermidades que atingem cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo, mas estão confinadas em áreas rurais e bairros distantes dos centros urbanos. Dentre elas, a leishmaniose, o Mal de Chagas e a tripanossomíase africana são as mais conhecidas.

Luta silenciosa

Longe da mira das indústrias farmacêuticas, os pesquisadores afirmam que o desinteresse se deve ao fato de o tratamento para essas doenças não representar um mercado lucrativo. Mais recorrente em países subdesenvolvidos e tropicais, só a leishmaniose mata, a cada ano, 11 mil pessoas e contabiliza 600 mil novas infecções. E as crianças são as maiores vítimas.

O Brasil é um dos países que mais sofre com esses casos de infecção. A doença de Chagas, por exemplo, é a quarta causa de morte no país, segundo a Fundação Oswaldo Cruz. A instituição também registrou um aumento significativo nos casos de leishmaniose nos subúrbios de grandes cidades.

Natureza como aliada

Na contracorrente, pesquisas lideradas por organizações filantrópicas mergulharam na busca por tratamento às doenças negligenciadas. A suíça DNDi, por exemplo, se dedica a reunir experiências com terapias naturais feitas ao redor do globo a fim de criar novos meios de combater parasitas.

Dos laboratórios e pesquisas de campo são aguardadas as contribuições mais valiosas. A Fundação Oswaldo Cruz, por exemplo, ajudou a padronizar a metodologia das pesquisas com produtos naturais.

A pesquisadora Tânia Alves, da Fiocruz, ressalta em seu trabalho que apenas 18 medicamentos foram desenvolvidos nos últimos 30 anos para combater doenças tropicais – o equivalente a 1% dos lançamentos farmacêuticos no mercado.

Os brasileiros contam com a biodiversidade do território nacional como grande aliado. O grupo de Tânia, por exemplo, tenta identificar os compostos ativos de 10 mil extratos de plantas e fungos que podem atuar contra os parasitas Leishmania amazonensis, Trypanosoma cruzi e Plasmodium falciparum.

Cientistas da Universidade de São Paulo, Unifesp, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal Fluminense e a Universidade Federal da Paraíba também compõem a iniciativa.

O esforço científico quer promover um salto histórico na área dos tratamentos disponíveis, que são praticamente os mesmo desenvolvidos há cem anos. O que também não mudou desde então é a capacidade letal: se não tratadas, todas essas doenças levam à morte, em 100% dos casos.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer