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Internet e revolução

25 de fevereiro de 2011

Inicialmente ignoradas e depois censuradas pelos governos, redes sociais como o Facebook e o Twitter foram decisivas para o sucesso das revoltas na Tunísia e no Egito. E continuam sendo, agora em outros países da região.

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Facebook na TunísiaFoto: picture alliance/dpa

Os detentores do poder no Oriente Médio subestimaram não apenas a cobertura dos acontecimentos por emissoras internacionais de televisão, como a Al Jazeera e a CNN – eles ignoraram também o poder das novas redes sociais na internet. Foram elas que permitiram aos cidadãos organizar protestos de massa e expressar sua insatisfação com os regimes.

Alguns críticos relativizam essa influência. De fato, não se pode afirmar que Facebook, Twitter e YouTube sejam o único fator responsável pelo sucesso das revoltas na Tunísia e no Egito: as manifestações, afinal, não ocorrem na internet, mas nas ruas e praças.

Mas, por outro lado, a velocidade com que os usuários árabes do Facebook se organizaram, indo às ruas protestar em nome da liberdade e da igualdade de oportunidades, foi um fator decisivo para o sucesso das revoltas.

Os mandatários parecem ter compreendido o poder das redes sociais e "puxaram a tomada", desativando a internet em seus países. Contudo, é interessante o fato de que, após assumir o poder, com a queda do regime de Hosni Mubarak, as Forças Armadas egípcias tenham agora sua própria página no Facebook, onde contam com mais de 300 mil seguidores.

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No Egito, protestos derrubaram o ditador MubarakFoto: picture-alliance/dpa

Poder das redes

Com os tunisianos e egípcios, a população de outros Estados árabes aprendeu que, na era da informática, revoluções também podem ser preparadas, coordenadas e até mesmo vencidas na internet. Quem visitar as páginas de grupos oposicionistas no Facebook notará um crescimento exponencial no número de membros.

Também nos murais virtuais dos grupos, as notas se multiplicam quase de minuto a minuto. Elas contêm informações e novidades sobre os protestos em andamento, conclamações a participar de novas manifestações ou simplesmente palavras de ordem de estímulo aos manifestantes e insultos contra os dirigentes e todos aqueles que os apoiem.

Os ativistas da rede também postam no Facebook links para as notícias, vídeos e chamadas das emissoras internacionais. Estas, por sua vez, transmitem sistematicamente em seus canais vídeos e fotos feitas por manifestantes in loco.

Recentemente, o canal de idioma árabe da BBC exibiu um vídeo de uma passeata em Manama, Barein, onde se veem soldados atirando nos manifestantes. Rodado com uma câmera de celular, esse filme havia sido clicado e reenviado milhares de vezes no Facebook, Twitter e YouTube.

Líbia e Iêmen

Nos últimos dias, a Líbia e o Iêmen também têm sido palco de choques violentos e sangrentos entre adversários do regime e forças de segurança. Mas também no Barein, país do Golfo Pérsico até então considerado relativamente tranquilo, a população vai às ruas em prol de uma sociedade mais justa e mais democrática.

Inspiradas pelo êxito das rebeliões no Egito e na Tunísia, também essas populações empregam agora as redes sociais na organização de protestos e no intercâmbio de informações. O número de grupos e de páginas no Facebook cresceu enormemente.

Uma dessas páginas, A Revolução do Povo Iemenita, tornou-se extremamente popular, contando mais de 18 mil membros. Comentários e análises volumosas são postadas regularmente em seu mural. Os usuários utilizam esse espaço também para divulgar informações sobre manifestações planejadas ou para subir e "lincar" fotos e vídeos. Em muitos deles, presenciam-se cenas dramáticas e mesmo cruéis: civis lutam com as forças de segurança, são feridos ou mesmo mortos.

Repressão rigorosa

Também na Líbia, diversas páginas no Facebook conclamam ao protesto. Entretanto, desde a sexta-feira passada (18/02), o regime desativou a internet, esperando abafar assim as manifestações. Neste meio tempo, pelo contrário, estas se exacerbaram, culminando em choques sangrentos.

Além disso, foi recentemente preso o ativista e blogueiro Jalal Al-Kuafi, que utilizara o Facebook para convocar protestos na Líbia. Até o momento, não há notícias sobre seu paradeiro. Na Síria, a blogueira Tall Al-Maluhi, de 20 anos, foi condenada a cinco anos de prisão, sob a acusação de ter agido como espiã dos Estados Unidos, a quem teria repassado segredos de Estado.

Na Síria vem-se formando uma comunidade na rede que anuncia um novo "Dia da Ira". Um dos sites mais conhecidos é The Syrian Revolution 2011, que já conta com mais de 22 mil visitantes. Até agora, o regime de Bachar Al-Assad tem impedido ao acesso ao Facebook e ao YouTube.

Redes no futuro

Ainda cabe conferir se as redes sociais, e a internet, como um todo, contribuirão para uma maior democracia e liberdade no mundo árabe. A internet realmente facilita a comunicação entre os ativistas, porém não é substituto para as manifestações; o Facebook impulsionou as revoluções, mas não as iniciou nem sustentou sozinho.

Entretanto, um fenômeno já se faz observar: os povos árabes cada vez mais encontram nas mídias sociais um espaço livre, de resto inexistente em suas sociedades – um espaço que nem o poder estatal nem a própria sociedade são capazes de censurar. O futuro dessa nova possibilidade permanece em aberto.

Autor: Nader Alsarras (av)
Revisão: Alexandre Schossler