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Meio ambiente

2 de fevereiro de 2011

Instituição defende modelo de crescimento econômico robusto e sustentável, mas sem impor uma fórmula pronta para os países, diz enviado especial de mudanças climáticas Andrew Steer.

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Foto: AP

Apesar de o Banco Mundial ter sido criado para ajudar na reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial, ele costuma ser mais associado ao combate à pobreza. Em tempos de mudanças climáticas, a instituição está recebendo uma nova tarefa: a promoção do desenvolvimento sustentável.

Para falar sobre o assunto, a Deutsche Welle entrevistou o enviado especial para mudanças climáticas da instituição, Andrew Steer. Ele assegurou que o Banco Mundial está expandindo o apoio às energias renováveis e que a instituição defende um modelo de crescimento econômico sustentável, com baixas emissões de carbono. "Mas o que não estamos fazendo é impor uma fórmula rígida para os países", afirmou.

Deutsche Welle: O Banco Mundial saiu de Cancun com um mandato para garantir ao menos parte do dinheiro necessário para ajudar países em desenvolvimento a lutar contra as mudanças climáticas. O que esse papel significa na prática?

Andrew Steer: Somos o gestor dos Fundos de Investimento Climático (equivalente a 6,4 bilhões de dólares). Disponibilizamos os fundos e tentamos usá-los para alavancar outros fundos adicionais. Assim, esse dinheiro levará a mais de 50 bilhões de dólares em novos investimentos em energia limpa e desenvolvimento resistente ao clima.

Em Cancun, as partes solicitaram que o Banco Mundial fosse o administrador interino de um novo Fundo Verde, que será delineado ao longo deste ano. Exatamente como esse fundo vai funcionar ainda está em discussão.

Weltbank Klimabotschafter Andrew Steer
Steer diz que 'outsiders' não devem ditar aos países em desenvolvimento qual caminho eles devem seguir para crescerFoto: World Bank

A tarefa tradicional do Banco Mundial tem sido combater a pobreza, portanto ele está na posição adequada para ajudar os países em desenvolvimento a adotar um caminho para o crescimento que deixe de lado a rota adotada até hoje, de emissões intensas de carbono.

Este é um aspecto excelente. Todos concordam que o grande progresso alcançado nas últimas duas ou três décadas pode ser seriamente prejudicado por causa das mudanças climáticas. É necessário que países de baixa e média rendas sigam caminhos adaptados às mudanças climáticas, mas também eles deixaram claro que querem ser parte de uma solução: eles querem seguir um caminho de baixas emissões de carbono.

Isso não significa que eles vão crescer mais devagar. Pelo contrário. Eles precisam ampliar o acesso à eletricidade de forma cada vez mais rápida – 70% da população africana ainda não tem acesso à eletricidade. A agenda das mudanças climáticas não implica fazer menos, mas fazer de forma diferente. Até o momento, apenas 2% do dinheiro obtido com créditos de carbono foi para a África. Achamos que isso deve ser drasticamente elevado para que os pobres sejam beneficiados.

Entretanto, apesar de o Banco Mundial estar expandindo rapidamente seus investimentos em energias renováveis, ainda investe mais em projetos de energia fóssil. Isso não é incoerente?

Nossa posição é que os países têm que escolher seus próprios caminhos para o desenvolvimento. Não é o trabalho de nenhum outsider impôr esses caminhos. O que importa é que as pessoas tenham acesso à energia e que as empresas tenham energia suficiente para gerar empregos. Assim como os países ricos continuam a ter um mix de energias convencionais e renováveis, o mesmo acontece com países de baixa e média rendas. Nosso trabalho é mostrar as vantagens das novas tecnologias e apoiá-las tanto quanto pudermos.

Entretanto, nos últimos dois anos foi ampliada a participação dos investimentos em combustíveis fósseis. Não seria possível direcionar mais investimentos em energias renováveis? Não se poderia eliminar os investimentos em usinas elétrícas a carvão em países em desenvolvimento?

Estamos expandindo enormemente nosso apoio às energias renováveis, isso é de grande importância para o Banco Mundial. Por isso não estamos indo, de jeito nenhum, na direção de expandir nosso financiamento para os combustíveis fósseis. Estamos seguindo a rota de expandir nossa ajuda para a eficiência energética e para energias renováveis e vamos continuar a fazer isso.

Alguns críticos apontam que, frequentemente, os critérios de seleção do Banco Mundial não descem a detalhes que garantam que o projeto vai, de fato, prover acesso para os pobres e não apenas gerar mais energia para a rede elétrica, o que não necessariamente beneficia os pobres.

Bem, o Banco Mundial não é perfeito, mas eu humildemente diria que o caminho que estamos seguindo em relação às opções de financiamento é um dos mais avançados no mundo em termos de considerar os impactos nas pessoas pobres. Agora, em última análise, os países precisam crescer. É apenas o crescimento econômico que vai gerar empregos. A questão é: que tipo de crescimento econômico?

Nosso desejo mais urgente é criar um tipo de crescimento econômico que seja robusto e sustentável e faremos tudo o que pudermos para garantir que seja o com baixas emissões de carbono. Mas o que não estamos fazendo é impor uma fórmula rígida para os países.

Mas será que o mundo não precisa de um pouco mais de rigidez? Não são urgentes as soluções para combater as mudanças climáticas?

É exatamente por isso que temos a maior carteira de mudanças climáticas do mundo. No ano passado 90% dos nossos países, o que significa mais de 130 países, nos disseram: "Vocês não podem fazer tudo por nós, mas entre as três ou quatro coisas que vocês podem realmente fazer para nos ajudar, uma delas deve ser as mudanças climáticas."

Então, por exemplo, em Cancun nós lançamos uma nova parceria voltada para o mercado. Isso vai ajudar os países a adotar soluções adequadas ao mercado para as alterações climáticas. Assim a China está introduzindo um sistema de comércio de emissões de carbono. O mesmo vale para o Chile, a Colômbia, a Indonésia, a Ucrânia. Esse é o tipo de coisa que estamos fazendo. Acabamos de elevar nosso apoio às energias renováveis em cerca de 60%. Estamos muito à frente dos nossos objetivos. Com certeza o mundo precisa de inspiração e liderança. O que ele não precisa é de outsiders forçando um caminho para o desenvolvimento.

Autor: Nathan Witkop (fc)
Revisão: Alexandre Schossler

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