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Campanha combate mutilação ritual feminina

av8 de maio de 2004

Organizações humanitárias lançam campanha contra circuncisão ou excisão genital de mulheres africanas. Mesmo vivendo na Alemanha, meninas são operadas na pátria dos pais. Os médicos carecem de informação sobre o assunto.

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Conbatendo a excisão genital na ÁfricaFoto: africa-photo

Segundo estimativas oficiais, 150 mil mulheres em todo o mundo são vítimas de mutilação genital. O cruel ritual, com severas conseqüências físicas e psíquicas, é praticado em cerca de 30 países da África, porém não é um problema exclusivo daquele continente. A organização humanitária alemã Aktion Weisses Friedensband (Ação Fita Branca da Paz) revela que há 35 mil imigrantes circuncidadas vivendo na Alemanha, e cerca de seis mil filhas suas correm o mesmo perigo.

Com freqüência, as meninas são levadas para a pátria de seus pais, entre os quatro e sete anos de idade, sendo submetidas à mutilação ritual por uma das numerosas curandeiras locais. De uma cultura para a outra, a intervenção toma uma forma mais ou menos grave: circuncisão (corte da pele em torno do clitóris), excisão (remoção do clitóris e parte dos pequenos lábios), ou infibulação (também denominada excisão faraônica).

Nesta última versão, a mais radical, não apenas o clitóris, os pequenos lábios e parte dos grandes lábios são extirpados, como a vulva em carne viva é costurada, deixando-se apenas passagem para a urina e a menstruação. A ferida cicatriza, e normalmente o orifício mínimo resultante só voltará a ser aberto na noite de núpcias.

Conseqüências para toda a vida

Jawahir Cumar é somali e sofreu a circuncisão quando criança. Hoje ela participa da organização Stop Mutilation, que realiza trabalho de esclarecimento junto às famílias afetadas na Alemanha, em círculos exclusivamente femininos. Na África, as voluntárias viajam de aldeia em aldeia, promovendo conversas nas famílias e escolas.

Nessas campanhas, cartazes e fotos desempenham um papel vital. Pois as imagens são chocantes: geralmente o ritual é realizado em cabanas simples ou mesmo ao ar livre, sob condições higiênicas catastróficas. Por vezes, várias meninas são operadas ao mesmo tempo, e sem anestesia. As mesmas giletes, facas ou até cacos de vidro são empregados para todas, sem desinfecção ou lavagem prévia.

Assim, quase a metade das vítimas morre das seqüelas da operação, de lesões dos órgãos ou de Aids. Para as sobreviventes sobram dores, infecções crônicas e incontinência, além do trauma que arrastarão pelo resto da vida.

Interesse masculino

É comum utilizarem-se argumentos religiosos para justificar as dolorosas mutilações. Geralmente o Alcorão é citado, embora não haja na escritura sagrada dos muçulmanos qualquer alusão a esta prática. Pesquisas antropológicas demonstram que a circuncisão (tanto masculina como feminina) já era praticada no Egito por volta de 2300 a.C.

Christa Müller
Christa Müller, da organização IntactFoto: dpa zb

Como explica Christa Müller, fundadora da iniciativa internacional (I)NTACT, cultivam-se também superstições de que as mulheres não circundadas não poderiam ter filhos, seriam menos saudáveis ou belas. "O interesse do homem desempenha o papel central," explica a ativista dos direitos femininos, "a garantia de que casará com uma virgem. E as mulheres não devem ter muito prazer com o sexo, diminuindo a probabilidade de que sejam infiéis".

Enfim, uma preocupação tipicamente patriarcal: o chefe de família quer estar seguro de que as crianças que sustenta são sangue do seu sangue. Müller é a porta-voz de assuntos científicos do Partido Social Democrata (SPD) e esposa do político Oskar Lafontaine.

A Weisses Friedensband e organizações parceiras querem mostrar também nas escolas e na mídia alemã que essa é uma tradição equivocada. Não só nenhuma religião exige a mutilação genital feminina, como ela atenta contra o direito fundamental à integridade física, sendo condenada pela ONU. Outro alvo da campanha é informar os médicos alemães que, confrontados com mulheres mutiladas, não sabem como agir.